Em 17 anos de operação, a Triunfo Participações e Investimentos (TPI) já foi do céu ao inferno algumas vezes. Criada em 1999, a partir de uma construtora paranaense, a empresa de infraestrutura desbancou gigantes do setor, arrematou ativos bilionários – a exemplo do Aeroporto de Viracopos, em Campinas – e surpreendeu os concorrentes com lances ousados.
Para bancar o agressivo plano de crescimento, abriu capital na bolsa de valores, fez emissões no exterior e se endividou. Aumentou sua participação nas áreas de portos, aeroportos e virou a terceira maior administradora de rodovias do Brasil, atrás apenas da CCR e da espanhola Arteris. Hoje, no meio de uma das maiores crises econômicas do País, ela parece estar pagando o preço da ousadia e faz o movimento inverso para diminuir o endividamento.
Nas últimas semanas, a vida do presidente da holding, Carlo Bottarelli, tem sido um constante entra e sai de agências reguladoras, bancos e escritórios de credores. Na pauta, assuntos espinhosos, como renegociações de dívidas, multas por descumprimento de contrato, suspeita de fraude em obras e pedidos de empréstimos para tocar investimentos obrigatórios.
O assunto mais urgente é o vencimento de R$ 312 milhões em dívidas até dezembro, sendo que R$ 160 milhões terão de ser pagos nos próximos dias. Por ora, a empresa não tem esse dinheiro para honrar os compromissos. “Mas vamos pagar. Talvez tenhamos de pedir um waiver (perdão) de 90 dias, mas estamos nos preparando para quitar esse débito, seja com dividendos ou um com novo empréstimo”, diz Bottarelli. “Apesar das restrições, continuamos solventes. Só estamos com problema de caixa neste momento.”
A situação já rendeu à empresa – que desde 2013 tem o BNDES como sócio – uma revisão do selo de “bom pagador” pela agência de classificação de risco Fitch Rating. Como em outras empresas brasileiras, a escalada do endividamento da Triunfo nos últimos anos elevou a alavancagem da holding de forma expressiva, apesar da venda de alguns ativos de energia. Pelos dados da Economática, entre 2009 e 2015, a dívida da Triunfo cresceu 460%.
O aumento não deve parar por aí. Com o forte ciclo de investimentos nos próximos três ou quatro anos por causa das novas concessões, a alavancagem da empresa deve dobrar, diz a Fitch. “Nosso rating considera que a Triunfo não conseguirá reduzir sua dívida no curto e médio prazos e a geração de dividendos será inferior às despesas financeiras.”
No mercado, a situação é vista com cautela. A capacidade financeira da TPI sempre foi um motivo de preocupação a cada vez que a empresa arrematava alguma concessão pública. Foi assim em Viracopos, quando venceu o leilão com ágio de 159,7% ao lado da UTC (envolvida na Lava Jato) e da francesa Egis Airport. A desconfiança começou a aparecer em 2008, no auge da crise global. A companhia venceu a concessão estadual da rodovia Ayrton Senna e, no ano seguinte, perdeu por não conseguir entregar as garantias exigidas. Como hoje, o mercado de crédito daquela época estava fechado.
A empresa também é dona do Porto de Navegantes, um dos mais importantes da Região Sul, e detém participação na Tijoá – concessionária responsável pela exploração da Usina Hidrelétrica de Três Irmãos. Em 2015, a empresa faturou R$ 2,9 bilhões – 250% superior à receita bruta de 2011. “Não vamos morrer abraçados numa árvore”, diz Bottarelli. “Temos R$ 3 bilhões em ativos e, se precisar, vamos vender.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.