Dois protestos na tarde de ontem terminaram com veículos incendiados, vias interditadas, congestionamento e a morte de um motorista atropelado. Os atos aconteceram no Rodoanel Oeste, na altura de Osasco, na Grande São Paulo, e na Avenida Zaki Narchi, na zona norte da capital paulista. Também na zona norte, o comércio de bairros fechou mais cedo, por causa de um toque de recolher supostamente imposto por criminosos.
Assassinato e prisão de bandidos levam a protestos, ônibus queimados e morte
O protesto no Rodoanel Oeste começou por volta das 16h30 e durou três horas e meia. Um grupo de pessoas saiu de uma comunidade próxima da pista, em Osasco, e parou uma van. O grupo usou o veículo para interditar a rodovia na altura do km 22, de acordo com a Polícia Militar. Com o trânsito parado, manifestantes obrigaram motoristas de dois caminhões e de um guincho a descerem e incendiaram os veículos.
O motorista de um dos veículos parados no trânsito decidiu ir a pé ver o que acontecia na via e acabou prensado entre veículos. Ele teve parada cardíaca e, apesar de socorrido por equipes da concessionária CCR, morreu no local. Segundo a polícia, dois caminhões estariam envolvidos no incidente. Já a concessionária afirma que o homem havia sido atropelado por uma moto, que tentava fugir da fila de automóveis.
A PM informou que o protesto foi motivado pela prisão de um traficante de drogas. Até as 23 horas, ninguém havia sido detido. Quando a polícia chegou ao local, no fim da tarde, os manifestantes se dispersaram. O tráfego no Rodoanel Oeste ficou interrompido entre o km 10 e o km 22, no sentido litoral.
Antonio Casa, de 46 anos, foi um dos que ficaram mais de uma hora na via no sentido de sua cidade, Curitibanos, em Santa Catarina. “Estou com medo. Vi na internet que está tendo represália por causa de traficante morto. E eu corro o risco de ser assaltado”, disse ele, que havia parado no acostamento para tirar dúvidas com outros motoristas sobre caminhos alternativos. A reportagem do Estado demorou duas horas para percorrer o trecho do km 7 ao km 11.
Toque de recolher
Comerciantes da zona norte da capital também viveram momentos de tensão e fecharam as lojas mais cedo, por causa de um toque de recolher. Homens armados, segundo relato dos moradores, passaram em ruas dos bairros Vila Guilherme, Vila Sabrina e Edu Chaves exigindo que o comércio fechasse.
Houve relatos também de que escolas municipais na região deixaram de funcionar. A ação seria coordenada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em represália à morte de um integrante da facção: Jeorge Vieira Ponciano, de 39 anos, que foi assassinado dentro de uma pizzaria no domingo.
“Aqui não passaram ameaçando, mas o comércio fechou mais cedo que o comum, de qualquer forma. E estou preocupada com o meu filho, porque as escolas da região estão liberando os alunos antes”, disse a dona de uma lanchonete na Avenida Júlio Buono, na Vila Guilherme, às 18 horas. Ela afirmou que, diferentemente do normal, carros da Polícia Militar passavam pela rua a cada 15 minutos, “bem devagarinho”. A reportagem do Estado viu sete viaturas na região – da Força Tática, do Choque e da Ronda Escolar – em um intervalo de apenas meia hora.
Na Rua Tosca, onde Ponciano foi morto, um comerciante relatou que toques de recolher não são incomuns e “eventualmente matam alguém”. Principal avenida comercial da Vila Sabrina, a Rua Milton Ribeiro estava vazia às 18h30, quando o usual é que o comércio funcione até as 20 horas. “Passaram mais cedo, obrigando a fechar as portas e depois a PM apareceu e tranquilizou o pessoal. Amanhã deve voltar tudo ao normal”, explicou o dono de um salão de beleza, um dos poucos locais abertos àquela hora.
Durante a tarde, a Polícia Militar negou oficialmente que houvesse um toque de recolher. À noite, a Secretaria da Segurança Pública não confirmou o fato, mas disse em nota que a PM “recebeu vários chamados sobre boatos de toques de recolher”. “Em decorrência deles, o policiamento foi reforçado nos bairros da região para garantir a segurança da população.”
Mais uma prisão
Pela manhã ainda foi preso um dos integrantes mais procurados do PCC fora das cadeias e chefe do tráfico na zona norte da capital. Márcio Geraldo Alves Ferreira, o Buda, estava foragido desde 2010. Os responsáveis pela captura afirmaram desconhecer se a detenção do criminoso motivou alguma ação na capital. (Colaborou Bruno Ribeiro)