Prévia da inflação oficial no País, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) atingiu 1,73% em abril, o maior patamar para o mês desde 1995, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE. Em 12 meses, a variação já chega a 12,03%, o que tem obrigado o consumidor a fazer uma ginástica para encaixar a alta de preços no orçamento doméstico e manter, ao menos, o básico no prato. A saída na maioria dos casos tem sido reduzir a quantidade de produtos no carrinho de compras.
É o caso da aposentada Maria Ester Duarte, de 75 anos, que na manhã desta quarta-feira, 27, fazia compras em uma feira na zona oeste da capital paulista. Ela contou que agora só leva para casa o que considera ser essencial, além de ter reduzido a quantidade de itens. "Os preços do tomate, do leite e do pão estão um absurdo", reclamou. Ela disse que tem feito um "bem bolado" com os feirantes amigos. Na barraca do ovo, por exemplo, leva a mercadoria e paga mensalmente só depois de receber a aposentadoria.
Patrícia Carvalho, de 53 anos, casada e mãe de uma adolescente, é outra consumidora que está levando menor quantidade de alimentos para casa e deixando mais dinheiro a cada vez que vai às compras. Dois meses atrás, desembolsava R$ 50 e comprava tudo o que precisava: frutas, verduras e legumes. "Hoje, gasto R$ 90, mesmo tendo diminuído os volumes", disse. Tomate, por exemplo, com alta de 26,17% pela prévia do IPCA, ela não compra mais.
Pelos dados do IBGE, os aumentos nos custos com alimentação e deslocamento responderam por cerca de 70% do IPCA-15 de abril. Os gastos com alimentação e bebidas tiveram aumento de 2,25%. Os alimentos para consumo no domicílio encareceram 3%. Além do tomate, os reajustes foram puxados por cenoura (15,02%), leite longa vida (12,21%), óleo de soja (11,47%), batata-inglesa (9,86%) e pão francês (4,36%). A alimentação fora do domicílio teve um aumento de 0,28% em abril.
<b>Gasolina</b>
Já transporte teve alta de 3,43%, resultado impulsionado pelo encarecimento de 7,54% dos combustíveis no varejo devido ao megarreajuste praticado pela Petrobras em 11 de março nas refinarias (a petroleira elevou o preço médio da gasolina às distribuidoras em 18,77%, enquanto o óleo diesel aumentou 24,93%). Pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indica que o preço da gasolina bateu novo recorde no País, vendida na semana de 17 a 23 março a R$ 7,270 por litro em média. Mas, em alguns postos da cidade de São Paulo, o produto já chega a ser vendido por R$ 8,599 por litro.
Dono de uma banca de frango e carne, o feirante Wanderlei Brazão tem três caminhões refrigerados para transportar as mercadorias da zona leste para a zona sul de São Paulo. Até pouco tempo atrás, gastava R$ 400 de diesel por semana para abastecer cada caminhão. Hoje, desembolsa R$ 600.
Brazão diz não ter repassado o custo extra para o preço das mercadorias que vende para não espantar o cliente. "Estou brigando por descontos nas compras com fornecedores, pois compro grandes volumes." Mesmo obtendo descontos, ele não consegue compensar totalmente a alta de gastos com o combustível.
Já os taxistas que dependem do combustível para trabalhar têm usado outra estratégia para economizar. Eles evitam rodar pelas ruas em busca de clientes e esperam no ponto a freguesia. "Tenho ficado mais parado no ponto, caso contrário a gente não aguenta", disse Jairo Antunes, que normalmente fica nas redondezas da movimentada estação do Metrô Butantã. O taxista usa gás natural (GNV) e hoje paga R$ 5,30 pelo metro cúbico. Até pouco tempo atrás, desembolsava R$ 4,30.
"Fico mais parado no ponto e trabalho mais por telefone", completou Ilson Geraldino, que usa etanol e gasolina.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>