O PSD avisou ao governo que quer entrar na negociação de cargos de segundo escalão, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajustar os espaços do Centrão na reforma ministerial. Apesar de contar com três pastas na Esplanada, membros do partido se queixam da falta de indicações em cargos com capilaridade nos Estados. Uma das opções colocadas à mesa é o comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), recriada para atender o Congresso, mas o que a sigla deseja mesmo são cargos regionais na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apurou o <b>Broadcast Político</b>.
O PSD ocupa hoje três ministérios: o da Agricultura, com Carlos Fávaro; o de Minas e Energia, com Alexandre Silveira; e o da Pesca e Aquicultura, com André de Paula. No entanto, integrantes da legenda, principalmente na bancada da Câmara, se queixam da falta de cargos no segundo escalão com atuação direta nos Estados, o que amplia a relação com governos locais, especialmente às vésperas das eleições municipais. O ministro indicado pelos deputados foi o da Pesca, mas a pasta tem um orçamento pequeno e pouca capilaridade.
O partido deu o recado ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em meio às negociações do Palácio do Planalto para acomodar PP e Republicanos no primeiro escalão, como forma de melhorar a governabilidade. Políticos do PSD consideram necessária a entrada do Centrão na Esplanada, mas fazem questão de lembrar que seu partido deu apoio quase unânime em votações importantes no primeiro semestre.
Um parlamentar da sigla presidida por Gilberto Kassab fez uma analogia para se referir à relação do PSD com o Executivo: a legenda seria o "filho comportado" que sempre tira "nota 10", enquanto outras agremiações seriam "filhos rebeldes" que apresentam nota baixa. Essa fonte observou que os "pais" – no caso, o Planalto – tentam agradar aos filhos problemáticos na esperança de que melhorem seu desempenho, mas , muitas vezes, se esquecem dos filhos comportados, que, quando se revoltam, causam estrago muito maior.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o PSD tentou negociar espaços regionais na Conab durante a tramitação da medida provisória (MP) que reestruturou a Esplanada, mas não teve seus desejos atendidos. Antes vinculado apenas ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), comandado pelo petista Paulo Teixeira, o órgão responsável pela segurança alimentar passou a ter suas atribuições compartilhadas entre o MDA e a pasta da Agricultura, dirigida por Fávaro, do PSD. O partido de Kassab descarta, contudo, pleitear o comando da Conab, porque o atual presidente, Edegar Pretto, foi uma indicação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
O PSD também não descarta o comando da Funasa. A sigla esteve à frente do órgão no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e vê como "natural" voltar ao comando. Como revelou a <b>Coluna do Estadão</b>, o partido considera indicar o ex-vice-governador do Ceará Domingos Filho, pai do deputado federal Domingos Neto (PSD-CE), para a presidência da Fundação. O órgão havia sido extinto no início da gestão petista, mas foi recriado em meio às negociações para acomodar o Centrão em espaços do Executivo.
Além do PSD, outros partidos que têm ministérios no governo, como PDT e União, reclamam que apesar de terem o comando de pastas do primeiro escalão, ficaram sem poder sobre órgãos de execução. Este é o caso da Conab e até da Dataprev, empresa de Tecnologia e Informações da Previdência. O atual ministro da Previdência Social é Carlos Lupi, mas a Dataprev está sob comando do ministério da Gestão, de Esther Dweck.
As negociações para a entrada do PP e do Republicanos no governo ocorrem após uma relação tensa entre partidos de centro-direita e o Planalto no primeiro semestre. Durante a votação da MP da Esplanada, o Centrão ameaçou derrubar a estrutura ministerial para mandar um recado de insatisfação com a articulação política, diante da demora na liberação de emendas e cargos. Nos bastidores, é dado como certo que os novos ministros serão André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), mas Lula ainda não decidiu quais pastas os dois vão ocupar.
O União Brasil, depois de ser contemplado com a troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo, quer a Embratur, hoje presidida pelo petista Marcelo Freixo, e os Correios, órgão comandado por Fabiano Silva, também ligado ao PT. O PP, por sua vez, também pleiteou a Funasa e quer indicar a ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI) para substituir Rita Serrano na presidência da Caixa Econômica Federal.