Samuel Fraga havia deixado o time de músicos que acompanhavam o rapper Criolo, momentos antes do estouro do disco dele, Nó na Orelha, lançado em 2011 e transformado em um marco para a cultura hip hop nacional. Mas foi caminhando pelas ruas de Neukölln, um bairro de Berlim conhecido pelo alto número de imigrantes turcos, que foi acometido pela sonoridade característica do país e, principalmente, pela música da cantora Selda Bagcan. As suas composições e as de outros artistas típicos da região saíam das caixas de som das lojas e chacoalhavam o músico brasileiro que passava por ali.
O som do saz, instrumento de cordas turco, e a percussão bastante característica de lá mostravam a identidade sonora que ele vinha procurando, ao unir o krautrock (como é conhecido o rock alemão) e a psicodelia. Assim nascia, naqueles passeios despreocupados de uma vida de poucas obrigações, em uma estada na capital alemã, o projeto Lamber Vision.
“Queria dar um tempo do Brasil”, conta ele, já de volta ao País há quase três anos e prestes a realizar a façanha de fazer com que a banda saia do papel, com o lançamento do disco que leva o nome do grupo, em dois formatos (vinil e digital), e um show no Sesc Pompeia, na quinta (22), às 21 h. “Nessa época, em 2010, eu tocava com o Criolo. Ele estava decolando. A galera não acreditava que eu deixaria tudo para trás e iria para a Alemanha “
Entre as intenções de Fraga, estudar alemão, inglês e morar com a namorada alemã da época, estava tocar com os amigos daqui e de fora. Ao lado de um brasileiro, um israelense e um argentino, montou o que seria o início do Lamber Vision, com uma mistura de influências que iam desde Can, banda referência quando o assunto é rock alemão, à música de origem grega, trazida por um dos músicos.
As canções gravadas no período alemão eram criadas por Fraga, cuja bateria é o seu instrumento principal, mas ele sabe passear por outros, como guitarra e baixo. “Naquela época, eu gravava tudo sozinho. Fazia guitarra, melodia, depois ia cuidando da harmonia”, conta ele.
Quando retornou ao País, o projeto tomou nova forma. “Toco guitarra, mas não no nível de guitarrista”, informa. Entraram em cena Fernando Catatau e Dustan Gallas, ambos da banda cearense Cidadão Instigado e produtores e músicos requisitadíssimos no mercado pop e independente. “Sou autodidata, vou tocando de ouvido. O som (do Lamber Vision) mudou assim que Catatau e Gallas começaram a tocar e também por causa do jeito como eles interpretaram aquele meu esboço.”
Catatau assume a guitarra, enquanto Gallas se alterna entre guitarra e teclado. “Os dois têm uma identificação muito forte com o instrumento, temos em comum esse interesse pelo rock setentista, psicodélico, coisas brasileiras e estrangeiras, como a música turca e a alemã. É uma junção de amigos”, garante Fraga No disco, ouvimos Pedro Strelkow no baixo, que hoje está sob a responsabilidade de Régis Damasceno, outro integrante da banda de Fortaleza.
O grupo já fez alguns shows em casas menores do circuito alternativo paulistano, mas será no Sesc que o projeto ganhará o verdadeiro pontapé inicial, marcando o lançamento do disco, que já pode ser ouvido e baixado no site oficial da banda. “Estamos felizes em conseguir prensar os vinis de forma independente”, lembra ele. Um novo álbum da banda já está nos planos.
Ausência de vocais, uma escolha estética de Fraga, vem a calhar justamente na liberdade que ela provoca, seja na cabeça dos músicos ou de qualquer um que ouve as canções. Títulos como Mellow Space, Deep Into It, Golden Children e Chaps são o único direcionamento que o ouvinte pode ter sobre cada uma das músicas Todo o restante é puramente sensorial. E não se preocupe caso, em algum momento durante a audição do disco, você se sentir em uma viagem pelas ruas alemãs, diante da mistura cosmopolita da cidade, mesmo que nunca tenha pisado por lá.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.