No dia de chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Brasília, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, disse nesta segunda-feira, 29, que o Partido dos Trabalhadores “vive de momentos críticos de que se alimenta para continuar se renovando e construindo a sua trajetória”. Enquanto a presidente Dilma Rousseff cumpre uma extensa agenda de compromissos nos Estados Unidos, Lula vai aproveitar o vácuo político para encontrar saídas para o “caos político” instalado na capital federa.
Um dos focos de descontentamento da relação entre o ex-presidente e a sua sucessora é o limitado poder conferido a Berzoini e ao ministro da Defesa, Jaques Wagner, na tomada das principais decisões do governo.
“O PT vive de momentos críticos de que se alimenta pra continuar se renovando e construindo a sua trajetória. Há 35 anos é assim, não é novidade, nós temos de saber conviver com isso com muita tranquilidade”, disse Berzoini a jornalistas, depois de se reunir no Planalto com o vice-presidente Michel Temer e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Eliseu Padilha (Secretaria de Aviação Civil) para tratar da votação no Senado Federal nesta semana.
“O PT está coeso e aglutinado, na verdade (a ida de Lula) é para fazer um debate político que é sempre bem-vindo. O PT é um partido com grande democracia interna, são 27 Estados que têm lideranças importantes, sempre lutando pra construir novas políticas. É assim que ele vive, é assim que ele se renova. O ex-presidente Lula é sempre muito bem-vindo pra dialogar com os parlamentares e com os movimentos sociais. É uma liderança inquestionável e que tem muita coisa a conversar conosco”, afirmou Berzoini.
Ao deixar o gabinete do vice-presidente, Berzoini admitiu que foi discutida na reunião a composição do segundo escalão, constante alvo de críticas do PMDB e aliados. Questionado sobre quais as nomeações foram acertadas, Berzoini limitou-se a dizer: “Varejo, varejo”.
Estremecimento
Na semana passada, em palestra promovida pelo Instituto Lula, em São Paulo, Lula disse que o PT está velho, viciado em poder, apegado a cargos, perdeu sua capacidade de gerar sonhos e utopias, não mobiliza mais as multidões, a não ser em troca de dinheiro e se encontra diante de uma encruzilhada.
A fala de Lula contrariou o Planalto, que vê nas movimentações do petista uma tentativa de se afastar dos escândalos de corrupção que abalam o partido, com o intuito de se descolar dos problemas e se preservar para a eleição presidencial de 2018.
A ida do ex-presidente a Brasília, coincidindo com a visita de Dilma aos Estados Unidos, também não agradou a auxiliares da presidente, que consideraram o “timing” péssimo. Na avaliação de uma fonte ouvida pela reportagem, a imagem que se passa é que Lula tenta arrumar a casa em meio ao “caos político” enquanto Dilma não está.