Um estudo conduzido em 2023 pela Universidade de Melbourne, na Austrália, mostra que pessoas atingidas por eventos climáticos sofrem também efeitos na saúde física e mental, seja pela perda total ou parcial de suas moradias ou pela perda de conhecidos e familiares. Os danos, que afetam principalmente pessoas em situação de vulnerabilidade social, duram, em média, de um a dois anos após o desastre.
No Rio Grande do Sul, 397 municípios foram afetados pelas fortes chuvas que atingem o Estado desde o início da semana passada. Até o momento, são 90 mortos confirmados e 131 desaparecidos. Além disso, mais de 1,4 milhão de pessoas foram afetadas, sendo que 156 mil estão desalojados e 48 mil em abrigos. Diante da dimensão da tragédia, considerada a pior vivenciada pelo RS, professores da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), criaram um curso rápido para facilitar o apoio psicológico às vítimas das chuvas.
O curso "Primeiros Socorros Psicológicos: Intervindo em Situações de Crises, Desastres e Catástrofes" foi gravado pelos professores Christian Haag Kristensen e Caroline Santa Maria Rodrigues, integrantes do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte), e é voltado às pessoas que estão atuando como voluntárias em resgates, abrigos e de outras formas. O objetivo é possibilitar que os atingidos pelas chuvas sejam acolhidos psicologicamente, considerando as dificuldades e limitações vivenciadas pelo Estado gaúcho.
Dividido em duas partes, o curso faz uma contextualização de desastres, quais os possíveis efeitos psicológicos e os agravantes da situação, como fome, machucados, abusos, entre outras situações. Já na segunda parte, são explicadas as formas de comunicação adequadas com as vítimas. O material conta também com o apoio do Conselho Regional de Psicologia (CRP-RS).
Os vídeos estão disponíveis gratuitamente por meio do site da PUCRS e também pelo Youtube. Abaixo, algumas das instruções que compõem o curso produzido pela instituição.
<b>Breves instruções de primeiros cuidados psicológicos</b>
Fazer com que as vítimas se sintam seguras, próximos às pessoas, calmas e esperançosas;
Proporcionar acesso a apoio social, físico e emocional;
Colaborar para que as pessoas se sintam capazes de ajudar a si mesmas enquanto indivíduos e comunidade;
Oferecer apoio e cuidado prático não invasivos;
Avaliar necessidades e preocupações;
Ajudar as pessoas a suprir suas necessidades básicas (alimentação, água e informação, por exemplo);
Escutar as pessoas, sem pressioná-las a falar;
Confortar as pessoas e ajudá-las a se sentirem calmas;
Ajudar as pessoas na busca de informações, serviços e suportes sociais;
Proteger as pessoas de danos adicionais.
<b>Como se comunicar?</b>
Permitir o silêncio
Escuta ativa
Linguagem simplificada e acessível
Empatia
Ajudar a pensar
Resumir e buscar mais informações
Reconhecer e não diminuir os sentimentos
Dar direcionamentos e informações úteis
Ver se há necessidade de intérprete de LIBRAS
<b>Eventos assim podem causar reações diversas</b>
Essas repercussões podem durar dias, semanas ou mais. Confira:
Reações emocionais: Choque, medo, luto, raiva, ressentimento, culpa, vergonha, desesperança, desamparo e entorpecimento;
Reações cognitivas: Confusão, desorientação, indecisão, dificuldade concentração, diminuição memória, autor responsabilização e memórias indesejáveis;
Reações físicas: Tensão, fadiga, insônia, reação sobressalto, náusea, perda apetite, alterações desejo sexual e frequência cardíaca aumentada;
Reações interpessoais: Irritabilidade, isolamento, reclusão, desconfiança, sentir-se rejeitado ou abandonado, distanciamento e necessidade de controle exagerado.
Os professores ainda afirmam que é preciso considerar as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade, como aquelas com problemas de saúde, deficiências ou que correm risco de discriminação ou violência. Além disso, eles frisam que o curso busca oferecer um panorama rápido, para que os atingidos pela catástrofe sejam tratados de maneira humanizada.
Em comunicado, a PUCRS declarou que as atividades acadêmicas estão suspensas, mas que o campus gaúcho se mantém aberto aos estudantes e à comunidade, oferecendo acesso à energia elétrica, equipamentos, ambientes de estudo, serviços de alimentação e uso de estruturas disponíveis.