Estadão

Putin ordenou retorno de iate antes do início da guerra na Ucrânia, mostram e-mails

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou a transferência de um iate avaliado em US$ 100 milhões da Alemanha para a Rússia semanas antes de Moscou lançar uma ofensiva contra o território ucraniano, no final de fevereiro de 2022, segundo informações divulgadas pela Fundação Anticorrupção, criada pelo opositor de Putin, Alexei Navalni.

Diversos e-mails divulgados pela organização mostram um pedido de urgência para a transferência de um iate de 82 metros chamado Graceful da cidade de Hamburgo, na Alemanha, para a Rússia. A embarcação estava em território alemão para uma reforma.

O iate não está no nome de Vladimir Putin, mas o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do governo dos EUA lista o Graceful como "propriedade bloqueada na qual o presidente Vladimir Putin tem interesse".

O Graceful, cujo codinome é Kosatka, ou Baleia Assassina, possui uma piscina coberta de 15 metros que pode ser convertida em pista de dança, e é apenas um dos vários super iates ligados a Putin.

Diversas fotos mostram o navio saindo de Hamburgo no dia 7 de fevereiro, com destino a Kaliningrado, enclave russo que fica entre a Polônia e a Lituânia. Quinze dias depois, Putin começou a guerra na Ucrânia.

A investigação aponta que um e-mail enviado ao estaleiro alemão Blohm+Voss de Hamburgo em 19 de janeiro de 2022 afirmava que o proprietário do Graceful gostaria que o iate fosse transportado para a Rússia no dia 1º de fevereiro e que todos os trabalhos de reparo fossem acelerados para que a embarcação pudesse voltar nesta data.

"O proprietário não está satisfeito com a reforma", dizia o e-mail que foi enviado pelo Grupo SCF, uma empresa importante no setor de transporte marítimo na Rússia.

Os e-mails s foram divulgados em uma reportagem da jornalista russa Maria Pevchikh, que lidera uma fundação anticorrupção criada por Navalni.

<b>Condenação</b>

Em agosto, Navalni foi condenado a passar mais 19 anos em prisão de segurança máxima por organizar, financiar e convocar atividades "extremistas", crimes que ele nega.

O advogado, que sobreviveu a um envenenamento e já está detido há mais de dois anos, alega que a condenação tem motivações políticas.

Aos 47 anos, Navalni já cumpre penas que somam mais de 11 anos de prisão por violações de liberdade condicional, fraude e desobediência civil. Agora, foi condenado mais uma vez no caso relacionado às atividades da fundação contra corrupção criada por ele.

A sentença – que costuma levar horas ou dias na Rússia – foi anunciada pelo juiz em menos de dez minutos e transmitida para imprensa em uma sala separada.

O julgamento ocorreu a portas fechadas em uma espécie de corte improvisada em Melekhovo, a cerca de 250 quilômetros de Moscou, onde Navalni está preso.

A Justiça decidiu também que ele deve cumprir a nova sentença em um "regime especial", como são chamadas as prisões mais rígidas da Rússia construídas para condenados à prisão perpétua ou "reincidentes especialmente perigosos".

Nas redes sociais, Navalni disse que a decisão equivale a uma sentença de prisão perpétua. "O número de anos não importa. Eu entendo perfeitamente que, como muitos presos políticos, eu tenho uma sentença de prisão perpétua. Onde a vida é medida pelo prazo da minha vida ou pelo prazo de vida deste regime", disse ele.

<b>Histórico</b>

Navalni ganhou notoriedade ao denunciar supostos esquemas de corrupção em estatais russas. Em 2011, foi uma das lideranças da onda de protestos que denunciava fraude nas eleições parlamentares.

Em 2018, era considerado o único político capaz de derrotar Vladimir Putin nas urnas e foi impedido de disputar a eleição. Uma multidão foi às ruas em protestos convocado pelo líder opositor que acabou detido

Dois anos depois, quase morreu vítima de um envenenamento enquanto voava da Sibéria para Moscou. Depois de ser atendido em solo russo, ficou internado em Berlim. Os testes feitos na Alemanha identificaram que a presença do agente nervoso da era soviética, Novichok. A descoberta elevou o tom das críticas contra o Kremlin que foi acusado de envenenar o opositor.

Em 2021, voltou para a Rússia apesar das ameaças de prisão e foi detido no aeroporto de Moscou ao desembarcar.

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