O presidente russo, Vladimir Putin, pediu ontem ajuda dos Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – para superar as sanções ocidentais contra a economia russa decretadas em razão do conflito ucraniano. Em discurso gravado, Putin defendeu uma maior aproximação dos países do bloco.
"Nossos empresários estão sendo obrigados a desenvolver suas atividades em condições difíceis, já que os aliados ocidentais omitem os princípios de base da economia de mercado, do livre-comércio", disse ontem Putin no fórum econômico do Brics, na véspera da cúpula virtual do bloco. "A aplicação permanente de novas sanções por motivos políticos contradiz o bom senso e a lógica econômica elementar."
<b>Bolsonaro</b>
Segundo Putin, a Rússia pretende redirecionar seus fluxos comerciais e contatos econômicos para parceiros internacionais confiáveis, especialmente os países do Brics. Ele afirmou que empresas russas de TI estão expandindo suas atividades na Índia e na África do Sul e satélites russos já fornecem transmissões de TV para 40 milhões de pessoas no Brasil.
"Negociações estão em andamento para abrir lojas de redes indianas na Rússia e aumentar a participação de carros chineses no mercado russo", afirmou Putin.
O presidente da China, Xi Jinping, comprou a ideia de Putin e criticou as sanções internacionais – embora sem citar diretamente os EUA. "Politizar e instrumentalizar a economia mundial, usando uma posição dominante no sistema financeiro global para impor sanções de forma desenfreada, apenas prejudica os outros, espalhando sofrimento às pessoas pelo mundo", disse Xi.
Já o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que não chegou a mencionar a guerra na Ucrânia, saudou a abertura no Brasil do escritório nacional do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), o banco dos Brics, que permitirá a ampliação da atuação dos países do bloco no Brasil.
O termo "Bric" foi cunhado por Jim O Neill, então chefe da equipe de economistas do banco Goldman Sachs, para indicar os mercados emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China – mais tarde, em 2010, a África do Sul foi convidada para engrossar o bloco. A aliança sempre teve um caráter mais político que econômico.
Em razão do caráter de suas economias, muitas vezes concorrentes, nunca houve uma intenção declarada de integração ou de assinatura de um acordo de livre-comércio. O NDB, por exemplo, citado por Bolsonaro, foi fundado em 2014 e vem ganhando corpo a passos de tartaruga. Agora, com a guerra na Ucrânia, a Rússia parece disposta a patrocinar uma aproximação entre os cinco países.
<b>Avanços</b>
Se o esforço de Putin parece ter conquistado aliados externos, ele também obteve ontem avanços no campo de batalha. As forças russas estão cada vez mais perto de conquistar o último foco de resistência ucraniana na região de Luhansk.
As cidades de Sevierodonetsk e Lisichansk foram alvo de intensos bombardeios russos. O governador de Luhansk, Serhi Haidai, disse que os russas atacaram prédios da polícia, das forças de segurança do Estado e do Judiciário. Caso domine a área, a Rússia teria controle quase total da região industrial de Donbas, no leste da Ucrânia – um dos objetivos declarados de Putin.
<b>Ataque</b>
A Ucrânia, no entanto, não parece aceitar passivamente o avanço da Rússia. Ontem, imagens divulgadas pelos russos mostraram um drone ucraniano se lançando contra uma refinaria de petróleo dentro das fronteiras da Rússia.
O vídeo compartilhado nas mídias sociais mostrou o veículo aéreo não tripulado colidindo com a refinaria de petróleo de Novoshakhtinsk, na região de Rostov, no que seria uma falha constrangedora dos sistemas de defesa aérea da Rússia.
Vasili Golubev, governador da região russa de Rostov, confirmou o ataque, escrevendo que fragmentos de dois drones foram encontrados nos arredores da refinaria de petróleo de Novoshakhtinsk, que pegou fogo. A Ucrânia vem usando drones na guerra, mas nunca reivindicou responsabilidade pelos ataques.
<b>Finlândia</b>
Em um sinal de que a guerra vem ampliando a tensão no Báltico, o chefe das Forças Armadas da Finlândia, o general Timo Kivinen, disse ontem que seu país está preparado para um ataque russo e oferecerá forte resistência caso ocorra. "Estamos motivados para lutar e construímos um arsenal substancial", disse Kivinen.
As declarações foram dadas na esteira das tensões entre Rússia e Lituânia, que proibiu o trânsito de certas mercadorias russas para o exclave de Kaliningrado. Ontem, Moscou voltou a ameaçar retaliar o governo lituano. O Kremlin disse que a resposta será no campo diplomático, mas avassaladora. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>