Estadão

Putin visita Coreia do Norte em busca de munição e apoio militar

O presidente russo, Vladimir Putin, inicia nesta terça-feira, 18, uma visita de dois dias à Coreia do Norte em uma rara viagem ao parceiro de longa data, no momento em que enfrenta novos desafios na guerra contra a Ucrânia. É a primeira ida do russo a Pyongyang em 24 anos – a última foi no começo de sua presidência, nos anos 2000, quando o líder norte-coreano ainda era Kim Jong-il, pai do atual, Kim Jong-un.

Antes de sua chegada, a mídia estatal de Pyongyang, a KCNA, publicou uma carta de Putin ao líder norte-coreano na qual ele afirma que seu desejo é elevar as relações com o parceiro, prometendo a ele seu "apoio inabalável". Putin disse que os dois países desenvolveram boas relações e parcerias nos últimos 70 anos com base na igualdade, respeito mútuo e confiança.

A viagem ocorre em um momento em que Moscou necessita de mais armas para prosseguir com sua guerra na Ucrânia, uma ajuda que a Coreia do Norte nega estar fornecendo.

Kim Jong-un, por sua vez, deve usar a visita para barganhar ajuda para seu programa nuclear e espacial, aproveitando-se de uma Rússia que tem buscado driblar o isolamento internacional forçado pelo Ocidente, por meio de aproximações com outras nações também alvo de sanções.

Os dois líderes já haviam se reunido em setembro, quando Kim viajou para a Rússia e afirmou que a relação entre os dois países era sua prioridade, chamando de "luta sagrada" a guerra que Moscou promove na Ucrânia.

Os EUA manifestaram, ontem, preocupação pela aproximação dos países. "A viagem não nos preocupa. O que nos preocupa é o aprofundamento da relação entre esses dois países", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

<b>Alternativas</b>

Rússia e Coreia do Norte foram grande aliados antes da dissolução da União Soviética. Eles já vinham estreitando os laços, mas a parceria se acelerou nos últimos dois anos, quando a Rússia se tornou o maior alvo de sanções do mundo, como resposta à sua invasão à Ucrânia. Buscando formas de manter sua economia de pé e seguir com a guerra, Moscou viu na isolada Coreia do Norte um fornecedor de armas e alternativa aos seus produtos comerciais.

A Rússia precisa de projéteis de artilharia e foguetes, algo que a Coreia do Norte tem a oferecer e, segundo analistas, seriam compatíveis com os sistemas de armas soviéticos e russos usados na Ucrânia. Além disso, Pyongyang teria uma capacidade de produção que ajudaria a Rússia a manter sua alta taxa de uso de munição enquanto o Kremlin procura aumentar a produção nacional.

Kim visitou uma fábrica de munições no mês passado e exibiu armazéns cheios de mísseis balísticos de curto alcance – de um tipo semelhante aos mísseis norte-coreanos que, segundo os EUA, a Rússia disparou contra a Ucrânia.

Por outro lado, Kim ganha um importante aliado que pode ajudar a continuar com seu controvertido programa de armas nucleares e a colocar satélites em órbita. "O fato de o presidente Putin estar fazendo essa viagem significa que, por causa da sua guerra na Ucrânia, a Rússia está muito necessitada de armas norte-coreanas", disse Chang Ho-jin, assessor de segurança nacional da Coreia do Sul, à Yonhap News TV, no fim de semana. "Os norte-coreanos tentarão obter o máximo possível em troca, porque a situação parece favorável para eles."

<b>Guerra Fria</b>

Analistas sul-coreanos também especulam que, além de buscar ajuda russa em seu programa nuclear, a Coreia do Norte pode estar tentando restabelecer uma aliança militar da era da Guerra Fria com Moscou. Seul fez alertas para que Putin não "cruze certas linhas" nesta viagem.

Em um movimento benéfico para a Coreia do Norte, a Rússia usou em março o seu poder de veto no Conselho de Segurança para dissolver um painel de especialistas da ONU que monitorava o cumprimento das sanções internacionais pela Coreia do Norte.

A parceria, porém, não é um mar de rosas. "Há muita desconfiança mútua entre os dois países. A recente melhora nas suas relações é impulsionada por situações circunstanciais", disse Andrei Lankov, professor de estudos coreanos na Universidade Kookmin, em Seul, ao <i>Washington Post</i>. (*COM INFORMAÇÕES DE NYT e WP)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

Posso ajudar?