A franquia dos filmes de Thor, o deus nórdico do trovão interpretado pelo fortalhão Chris Hemsworth, tentava correr, mas o freio de mão parecia puxado. Arrancava, buscava vilões mirabolantes, tramas que percorriam tempo e espaço, mas só patinava. Então, veio Guardiões da Galáxia, de James Gunn, o filme de autor dentro de uma máquina endinheirada chamada Marvel Studios, em 2014. Havia sabor, havia cultura pop, havia uma nostalgia oitentista de ficção científica trash. Era leveza e cores para todos os lados. Seria um excesso, se não fosse tão divertido. Aquele grupo de heróis desajustados, formado por completos desconhecidos do público de massa, se tornou o grande e disparadamente mais ousado sucesso do estúdio.
Beirar o bilhão com personagens gigantes no imaginário dos gibis, como Capitão América e Homem de Ferro, é fácil. Já Thor, embora fosse um dos mais poderosos e instigantes personagens das HQs, pelo encontro entre mitologia e realidade, era o patinho feio. Seus dois filmes, Thor (2011) e Thor: O Mundo Sombrio (2013), não naufragaram, mas também não chegaram à outra margem. Eram um grande “é, tá, vamos torcer para o próximo ser melhor”.
Portanto, na cabeça de Kevin Feige, o presidente do Marvel Studios, era preciso romper com o que havia sido feito até então. Escalou o novato de blockbusters neozelandês Taika Waititi, tal qual Gunn. A fórmula era a mesma. Levar Thor ao espaço sideral, entupir a tela de cores, inserir a estética oitentista, sonorizar com hits radiofônicos do pop e rock, criar um time de personagens que se detestam e, batata, temos o Guardiões da Galá… Ops, temos Thor: Ragnarok.
É o melhor filme do herói, algo fácil já que as duas aventuras anteriores não são capazes de fazer frente a vídeos bem editados de gatinhos e filhotes de cachorro – mas também é um dos melhores filmes do Universo Cinematográfico da Marvel. Não se compara ao drama de espionagem dos longas de Capitão América, nem à leveza do primeiro Homem de Ferro – o filme foi responsável por dar início a toda essa cinessérie -, mas se estabelece, no ranking, logo abaixo do primeiro Guardiões da Galáxia. Um feito e tanto para um personagem moribundo.
Waititi, com o humor e a leveza, principalmente, deu humanidade ao deus do trovão. Despiu-o da pose, tirou-lhe o martelo especial Mjölnir, cortou-lhe os cabelos, arrancou-lhe a nobreza. Tornou Thor em descarte despejado em um lixão transformado em planeta, o reduziu a um mero gladiador pronto para morrer. Fez de Thor o que quis. E saiu-se vitorioso. Com Waititi, o ranço saiu, restou o riso. Tudo bem e ainda bem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.