Os dados da área fiscal anunciados nesta terça-feira, 30, pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central mostram um cenário muito ruim, e a tendência é de piora desse quadro. A avaliação é do economista-chefe da Quantitas Asset Management, Gustav Gorski, que, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, disse que não acredita que as metas de superávit primário sejam atingidas em 2014, mesmo com manobras e recursos extraordinários.
Nesta terça-feira, o Tesouro informou que as contas do Governo Central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência) tiveram um déficit primário de R$ 10,422 bilhões em agosto, o quarto consecutivo de 2014 e o pior resultado fiscal para meses de agosto em 18 anos. Pouco depois, o Banco Central anunciou que o setor público consolidado (Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobras e Eletrobras) apresentou déficit primário de R$ 14,460 bilhões em agosto, o pior resultado desde dezembro de 2008, quando ficou negativo em R$ 20,951 bilhões, e também o dado negativo mais intenso para o mês na série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.
Em ambas as divulgações, os números vieram piores do que as estimativas dos economistas ouvidos pelo AE Projeções. No caso do Tesouro, a expectativa dos analistas era de um resultado que ia de déficit primário de R$ 9,800 bilhões a superávit de R$ 4,000 bilhões, com mediana negativa de R$ 700 milhões. No caso do número do BC, o mercado aguardava um resultado primário que ia de um déficit de R$ 12,400 bilhões a um superávit de R$ 4,000 bilhões, com mediana negativa de R$ 5,000 bilhões.
“O resultado veio muito abaixo do esperado e mostrou uma dinâmica perversa, do ponto de vista fiscal”, avaliou Gorski. “A cada divulgação que temos, o gestor público que é responsável pela informação diz que está tudo bem, mas ela só piora. Então, o que esperar para frente é uma incerteza muito grande”, destacou, criticando a conduta do governo federal.
Para o economista-chefe da Quantitas, a grande maioria das metas traçadas pelo governo não deve ser cumprida este ano, e isso não é uma exclusividade da área fiscal. “Nem a meta (central) de inflação, nem a meta fiscal, nem a meta de gastos sociais, nem a meta de gastos em infraestrutura, nem a meta de leilões”, listou. “Mostra um problema de ideologia dentro de uma gestão. Você faz uma gestão ideológica e tem esses problemas”, criticou.
Antes dos dados divulgados pelo Banco Central nesta terça-feira, Gorski trabalhava com uma projeção de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para o superávit primário do setor público consolidado de 2014 ante uma meta perseguida pelo BC muito mais expressiva, de 1,9% do PIB. “Agora, acho que vem menos do que isso”, afirmou. “O acumulado em 12 meses está em 0,9% e o acumulado no ano está em 0,3%. E a tendência é continuar piorando”, lamentou o economista-chefe da Quantitas.