O provável reajuste dos salários dos vereadores guarulhenses superior a 60% que deve levar os ganhos mensais de cada um dos 34 parlamentares a mais de R$ 15 mil chama a atenção da sociedade. Não é para menos em um país repleto de problemas sociais e numa cidade que não consegue resolver questões que envolvem a saúde, transportes e educação. Para apimentar um pouco mais a discussão, a imensa maioria dda população vive com valores muito inferiores que estes a serem pagos a seus representantes. Porém, o debate pode não passar por aí. Afinal, ganhar bem não deve ser encarado como demérito para ninguém. O problema reside exatamente no fato de que muitos de nossos parlamentares, já em seu quarto ano de mandato, não justificarem merecer esta renda.
Diversas correntes defendem que vereadores e deputados, assim como integrantes do primeiro escalão do Executivo, assim como do Judiciário, devam mesmo ganhar muito bem, até para que ótimas cabeças pensantes, em suas áreas de atuação, não se retrinjam ao mundo privado. É muito comum ouvir um médico dizer, depois de alguns anos de profissão, que basta atuar uma semana em seu consultório para sua renda ser ainda maior que esses R$ 15 mil a serem aprovados. Há lógica nesse pensamento que não pode ser descartado.
O que pesa contra os parlamentares, em especial os vereadores guarulhenses, é o fato desses valores destoarem da realidade da maioria da população. Pior: a produtividade da Câmara de Guarulhos é bastante questionável. Legisla-se muito pouco e praticamente não se fiscaliza o Executivo. Mais: o tempo dispensado para a atividade parlamentar é pequeno em comparação ao período que muitos deles dedicam às suas atividades primárias.
Fora o fato de muitas sessões deixarem de ser realizados por falta de quorum. Ou seja, porque muitos desses senhores e senhoras que recebem muito bem para estar na Câmara dois dias por semana não se fazem presentes.
Talvez, para minimizar o impacto desse reajuste superior a 60%, os vereadores poderiam aceitar uma contraproposta. Que cada minutos deles ausente da Casa de Leis fosse devidamente descontado de seus pagamentos, algo que não ocorre de jeito nenhum. É comum, numa ação mais do que corporativa, os vereadores assinarem a lista depois, com a conivência de seus pares. Ou, quando isso não é possível, basta uma desculpa qualquer que tudo está resolvido. Se há o direito de ganhar bem, há o dever de trabalhar melhor ainda.