O fechamento do comércio em geral e o esquema de delivery adotado pelos restaurantes em vários Estados brasileiros por causa da quarentena como prevenção ao coronavírus afetou em cheio a cadeia produtiva de queijo. "O abalo foi grande", confirma ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), Fábio Scarcelli. Ele calcula queda nas vendas do setor em pelo menos 60% desde o início da quarentena.
No início, diz, a corrida aos supermercados para estocar alimentos até provocou uma aceleração no consumo do laticínio. "Mas quando veio o fechamento do comércio e dos restaurantes as vendas despencaram."
Scarcelli, cuja associação representa 1,5 mil fábricas de queijo no País sob inspeção federal (com SIF), ou 65% da produção nacional, diz que a cadeia depende bastante das vendas para alimentação fora de casa. "Restaurantes e food service absorvem no mínimo 30% da produção nacional, que é de cerca de 1,2 milhão de toneladas por ano", diz.
A maior parte do consumo é dos queijos prato, mussarela e requeijão, que perfazem 450 mil toneladas do total produzido por ano no País e são destinados, em sua maioria, para restaurantes, pizzarias, lanchonetes e fast foods.
Daí a queda acentuada na comercialização. "Por mais que os restaurantes possam operar, mesmo em esquema de delivery, na quarentena as pessoas reduziram bastante o consumo deste tipo de serviço", diz. A maior parte, ressalta, está elaborando as refeições em casa. "E, mesmo tendo aumentado o consumo no lar, não é a mesma coisa do consumo na rua; sem quarentena, tem o pessoal que vai para a faculdade, para o restaurante, o boteco e consome bastante queijo fora de casa", diz ele.
Como reflexo na redução expressiva no consumo de queijos, Scarcelli diz que as indústrias associadas começam a reclamar da falta de espaço nas câmaras frias para armazenar o produto que deixou de ser vendido. Como presidente da Abiq, ainda estuda, junto com os associados, as estratégias para minimizar o efeito econômico. Ele já adianta, entretanto, que "parar de comprar leite dos produtores seria a última das opções". Mas diz que, ainda assim, a vaca no campo continua a produzir leite e logo haverá dificuldades de captar tudo se a produção de queijos não for escoada.
Uma das alternativas em estudo é verificar linhas de crédito disponíveis no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a armazenagem, que tem alto custo para os laticínios. "Vários fabricantes estão totalmente estocados e não têm espaço para colocar os queijos, tampouco reserva financeira para guardar esses estoques por muito tempo", comenta.
Outra medida seria solicitar ao governo, por meio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para que ele abra a compra emergencial de leite em pó, a fim de absorver o excesso de leite que possa haver com a redução da produção queijeira. Scarcelli ressalta que, a depender da duração da quarentena e da consequente queda do consumo de queijos, a indústria "pode chegar no limite". "Infelizmente, vai chegar uma hora em que a indústria não terá onde estocar, nem como pagar por esses estoques", lamenta.