Estadão

Quarteto de cordas lança álbum com obras de compositoras brasileiras

A categoria de música clássica dificilmente está entre as mais faladas do Grammy. Mas neste ano algo diferente aconteceu. O CD do ano foi o álbum em que a Orquestra da Filadélfia registrou sinfonias da compositora americana Florence Price (1887-1953). E a melhor coletânea, Women Warriors, criação coletiva cujo objetivo era abrir espaço a compositoras.

As duas vitórias não deixam de ser um recado. E se inserem em um movimento recente, disposto a discutir um dos muito elefantes na sala da música clássica: a disparidade de gênero. Os números são claros, como mostra pesquisa feita pela Fundação Donne, da Inglaterra, criada pela soprano brasileira Gabriella Di Laccio. Das 14.747 obras musicais programadas por cem orquestras de 27 países em 2020 e 2021, apenas 747 (5%) foram escritas por mulheres. No Brasil, apenas 0,44% do repertório foi de peças de compositoras.

Mais um motivo para celebrar o lançamento do disco Entre Brumas e Fúrias, do Quarteto Boulanger. O grupo é formado por Jovana Trifunovic (violino), Flávia Motta (viola), Lina Radovanovic (violoncelo) e Ayumi Shigeta (piano), todas da Filarmônica de Minas Gerais. E gravou apenas obras de compositoras: Marisa Rezende, Valéria Bonafé, Silvia de Lucca, Tatiana Catanzaro e Maria Helena Rosas Fernandes.

<b>Visibilidade</b>

"É um álbum de música de câmara contemporânea feita e interpretada por mulheres", explicam. As compositoras têm entre 37 e 88 anos. Juntas, esperam, tornar "visíveis e audíveis suas percepções sobre a época em que vivemos, buscando contribuir para a descoberta de outras nuances, de outras formas de interpretação da vida e da arte".

O álbum começa com Pequenos Gestos, que na música de Rezende se traduzem em uma conversa a quatro vozes. Mãe-Maré, de Bonafé, é uma reflexão sobre a vida, baseada em sua experiência de pós-parto. Catanzaro inspira-se na poesia de Maya Angelou para criar Caged Bird. Silvia de Lucca assina Carm in Versos, sobre versos e inversos em nossa percepção de mundo. E Celebração, de Fernandes, "nos convida a um rito indígena de exaltação".

Pelos temas, pelas múltiplas estéticas e pela interpretação, o disco se faz a partir de diferentes, pessoais e fascinantes olhares. E nos lembra que é mesmo de nuances, de diversidade e de múltiplas sensibilidades que o mundo é feito.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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