Uma comissão de inquérito foi instituída pelo Banco Central (BC) logo após a intervenção do órgão no banco Nacional, a maior das instituições auxiliadas pelo Proer e um dos maiores bancos privados da América Latina naquele momento. Técnicos do BC trabalharam com auditores do Unibanco, que comprara o Nacional, por seis meses para desvendar como o Nacional “conseguiu” quebrar.
A comissão teve acesso aos dados secretos do Nacional e também promoveu depoimentos com gestores. Os trabalhos foram concluídos em julho de 1996 e até hoje nunca foram revelados. Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Estado obteve, pela primeira vez, o relatório final, de 146 páginas, dividido em dois documentos.
A quebra do Nacional impressionou os próprios técnicos e auditores do BC, como revelam os documentos. A comissão aponta que as fraudes na instituição começaram em 1987, com as operações de crédito “de natureza 917”. Este era o código para empréstimos concedidos “a empresas falidas, concordatárias, desaparecidas” e que, em vez de serem transferidas para a rubrica de “crédito em liquidação”, permaneciam em aberto, como créditos normais, inflando artificialmente o balanço do banco. Não foi só isso: a partir de 1988, as “operações 917” cresceram muito.
Quando o Nacional quebrou e sofreu a intervenção do BC, em novembro de 1995, as operações de natureza 917 acumulavam um saldo bilionário, que o BC estimou na comissão de inquérito em R$ 5,367 bilhões, que inflavam as receitas do banco. Este valor, atualizado pelo IGP-M, corresponde hoje a R$ 24,9 bilhões.
Maquiagem
“Temos a indicação que o procedimento de apropriar receitas visava unicamente melhorar as demonstrações financeiras do Banco Nacional S.A., procedimento este comumente conhecido como enfeitar ou maquiar o balanço, permitindo, desta forma, que a instituição financeira mantivesse uma boa imagem de credibilidade no mercado financeiro e, por outro lado, ilaqueasse o Banco Central, a CVM, auditoria externa, acionistas e cliente”, afirmam os técnicos do BC no relatório da comissão de inquérito.
Neste período investigado, entre 1987 e 1995, o Nacional cresceu muito e chegou ao seu auge, apoiado no patrocínio master ao piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, que venceu os campeonatos de 1988, 1990 e 1991 com a marca do Nacional em seu macacão e também no boné azul que usava.
Um dado coletado pelo BC aponta que das 335 agências que o Nacional tinha no momento de criação do Proer, nada menos do que 187 delas foram utilizadas para abrigar as “operações 917”. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.