A queda menor do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 do que em 2015 aconteceu por causa de uma melhora no desempenho da indústria. O diagnóstico é da coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. A retração anual foi de 3,6%, enquanto no ano anterior tinha sido de 3,8% na mesma base de comparação.
“Em 2015, indústria e serviços caíram. Em 2016, a indústria caiu menos, mas serviços continuaram no mesmo ritmo de queda e agropecuária virou. Então, a melhora de 0,2 ponto porcentual entre 2015 e 2016 se deu basicamente pelo desempenho da indústria”, afirmou.
A coordenadora de contas nacionais disse ainda que a queda disseminada das atividades que ocorreu em 2015 e 2016 não se via desde 1996.
Em relação ao setor externo, houve contribuição positiva para o crescimento econômico, com exportações crescendo e queda das importações. “Apesar de valorização do câmbio desde o segundo semestre, no ano como um todo ainda houve desvalorização de 4,8%, o que ajudou a manter a contribuição positiva do setor externo em 2016”, afirmou. Já a partir do último trimestre do ano, houve contribuição negativa.
Rebeca citou ainda que a deterioração do mercado de trabalho foi a principal causa da piora no consumo das famílias, que retraiu 4,2% em 2016 ante 2015. Ela destacou que a massa salarial real caiu em 2016, enquanto em 2015 tinha ficado estável.
Aberturas por setores e segmentos
A indústria de transformação teve queda de 5,2% em 2016 em relação a 2015, segundo informou IBGE em comunicado sobre os resultados das Contas Nacionais Trimestrais. Já a indústria extrativa mineral registrou um recuo de 2,9%, influenciada pela queda da extração de minérios ferrosos, segundo o IBGE.
A agricultura definiu o desempenho negativo do setor agropecuário no ano passado, o qual amargou um recuo de 6,6%. As outras duas atividades econômicas que compõem o PIB nas Contas Nacionais – indústria e serviços – também registraram resultados negativos em 2016. Recuaram -3,8% e -2,7%, respectivamente.
Segundo o IBGE, a queda de 3,6% do PIB em 2016 resultou do recuo de 3,1% do valor adicionado a preços básicos e da contração de 6,4% nos impostos sobre produtos líquidos e subsídios. O resultado do valor adicionado refletiu o desempenho negativo das três atividades que compõem o indicador, já mencionadas.
FBCF
Na análise da despesa, pelo terceiro ano consecutivo houve contração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) de 10,2%. “Este recuo é justificado pela queda da produção interna e da importação de bens de capital sendo influenciado ainda pelo recuo da construção”, informou o IBGE em comunicado.
A retração do consumo das famílias, de 4,2% comparativamente a 2015, é explicada pela deterioração dos indicadores de juros, crédito, emprego e renda ao longo do ano. A despesa do governo caiu 0,6%, na mesma base de comparação.
Comércio externo
Já no setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 1,9%, enquanto as importações de bens e serviços caíram 10,3%. O IBGE informou ainda que a necessidade de financiamento alcançou R$ 98,5 bilhões no ano passado, ante R$ 190,2 bilhões em 2015.
O saldo externo de bens e serviços aumentou R$ 93,4 bilhões de 2015 para 2016. Em 2015, foi registrado déficit de R$ 70,7 bilhões, enquanto, em 2016, foi de R$ 22,7 bilhões.
Comparações interanuais
Conforme o IBGE, a indústria de transformação recuou 2,4% no quarto trimestre do ano passado comparado a igual período do ano anterior. Na mesma base de comparação, a indústria de construção civil recuou 7,5%. Na contramão dos demais setores, a indústria extrativa mineral avançou 4%, por conta, principalmente, do crescimento da extração de petróleo e gás natural. A atividade de eletricidade e gás, água e esgoto e limpeza urbana cresceu 2,4%.
No setor de serviços, que caiu 2,4% no quarto trimestre comparado a igual período de 2015, o IBGE destacou a contração de 7,5% do segmento de transporte, armazenagem e correio e de 3,5% do comércio atacadista e de varejo. Também apresentaram resultado negativo as atividades de intermediação financeira e seguros (-3,4%), serviços de informação (-3%), outros serviços (-2,6%) e administração, saúde e educação pública (-0,7%). As atividades imobiliárias (0,1%) mantiveram-se praticamente estáveis no período.
Pelo sétimo trimestre consecutivo, todos os componentes da demanda interna apresentaram queda, sendo que o consumo das famílias apresentou a oitava queda seguida, de 2,9%. “Este resultado pode ser explicado pelo comportamento dos indicadores de crédito, emprego e renda ao longo do período”, informou o IBGE.
Já a FBCF, no quarto trimestre ante igual período de 2015, registrou a 11ª queda consecutiva, de 5,4%. “Este recuo é justificado, principalmente, pela queda das importações de bens de capital e pelo desempenho negativo da construção neste período”, informou o IBGE.