Faz 15 dias que a empresária Lilian Maia Sallum, dona do cinquentenário restaurante Esquina do Fuad, na capital paulista, especializado em cortes de carnes importadas, tirou do cardápio o filé mignon. "Quando bateu R$ 100 o quilo, troquei pelo miolo de alcatra, que custa R$ 48, e avisei os clientes", conta a empresária.
O movimento do restaurante hoje ainda não voltou ao normal. Está entre 60% e 70% do que era no período pré-pandemia. "Acredito que volte ao normal quando todos estiverem 100% vacinados, mas não é só isso", diz. A sua percepção é de que há também muitas pessoas inseguras e com medo de perder o emprego. Isso freia a ida aos restaurantes. "Comer fora está caro."
Pressionada pela alta de custos, desde que reabriu o restaurante Lilian reajustou, em média, 15% o preço dos pratos que levam carne. "O resto você não consegue reajustar, é preciso absorver porque o cliente não tem dinheiro", explica.
O descompasso entre a alta de custos dos prestadores de serviços e o repasse para os preços ao consumidor se repete no setor da beleza. "Tivemos aumentos de insumos na casa de 20%", conta o presidente da Associação Brasileira de Salões de Beleza (ABSB), José Augusto Nascimento Santos. Nessa lista, ele aponta o esmalte e itens influenciados pela alta do petróleo.
Mas, segundo Santos, não há espaço hoje para grandes reajustes de preços aos clientes. "Não tenho conhecimento de aumentos superiores a 8%, na média nacional, dos serviços prestados pelos salões de beleza", diz.
Ele reconhece que há uma clientela com poder aquisitivo alto que não se importa tanto com os aumentos. Mas, para a grande maioria, esse reajuste pesa. E, neste momento, o risco de os salões de beleza perderem mais clientes ou não recuperarem os perdidos na pandemia é grande.
Com o isolamento social, o mercado de profissionais autônomos que prestam serviços em domicílio cresceu. Um dos indícios desse movimento é que os salões, em média, estão atualmente ainda com movimento 35% menor em relação ao período pré-pandemia. "Não houve uma retomada pujante", afirma.
O executivo argumenta também que a frequência ao salão diminuiu devido ao novo estilo de vida. "Tem muita gente em home office e isso exige menos cuidados pessoais, como escovar e tingir os cabelos, esmaltar as unhas."
De toda forma, no ritmo atual de recuperação do movimento de 6% ao mês, a expectativa do setor é voltar ter algum crescimento de venda sobre o desempenho pré-pandemia a partir de maio do próximo ano. "Isso se não houver nenhum tipo de surpresa desagradável", diz Santos, fazendo menção ao risco de uma nova onda da pandemia que pode levar ao fechamento dos salões.
<b> EFEITO CHAMPAGNE </b>
Enquanto a recuperação caminha a passos lentos em muitos serviços regulares do dia adia, como restaurantes, bares, salões de beleza, o setor de eventos vive o "efeito Champagne". O termo está sendo usado no mercado de entretenimento para a retomada muito forte do setor neste momento de volta à vida normal, explica Bruno Sapienza, head de receita da Ingresse, marketplace de venda de ingressos de eventos, como réveillon e carnaval.
A plataforma tem hoje 100 eventos de réveillon, com 80% dos ingressos vendidos. Os preços do réveillon, que inclui vários dias de festas, vão de R$ 4 mil a R$ 8 mil e foram reajustados neste ano em 15%. Para o réveillon da Praia da Pipa (RN), o Lets Pipa, um dos mais famosos, foram vendidos 2 mil ingressos em três horas. "Não esperávamos esse ritmo", diz Sapienza. Sem revelar números, ele acredita que a plataforma feche 2021 ultrapassando o melhor ano de vendas, que foi 2019. Isso, se uma nova variante de covid-19 não estragar a festa. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>