Apesar das reclamações públicas frequentes do presidente Jair Bolsonaro sobre medidas adotadas pelos Estados e municípios para enfrentamento da pandemia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse em depoimento à CPI da Covid que governadores e prefeitos podem adotar medidas de isolamento, como têm feito.
"O senhor acha que Estados e municípios devem ter o direito de fazer essa política de distanciamento social ou de lockdown até, se for o caso, conforme a características e o momento epidemiológico de cada um desses Estados e municípios? O senhor concorda?", questionou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Isso tem sido feito no Brasil", respondeu Queiroga.
Jereissati quis uma posição mais clara. "Tem, mas o senhor concorda?", questionou. "Claro que eu concordo, senador", disse enfim o ministro.
Queiroga reconheceu que medidas mais extremas possam ser colocadas em prática "dentro de cenários específicos". "Um município onde o estado epidemiológico está muito grave pode eventualmente se ter um fechamento maior. Mas, como uma medida nacional, nós temos um país continental, senador, é uma medida como essa, ela não vai surtir o efeito desejado até porque existe uma dificuldade muito forte de adesão da nossa população", disse o ministro.
"O presidente da República em nenhum momento falou dessa questão pra mim, até porque essa é uma matéria que já foi disciplinada pelo próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Ministério da Saúde vai elaborar um protocolo sobre esse tema e aí vai ser descrito de maneira muito clara acerca dessas questões de mobilidade. O objetivo é que as medidas sanitárias, elas impeçam que nós tenhamos uma situação extrema", afirmou o ministro.
<b>Guerra química</b>
Marcelo Queiroga afirmou que "desconhece" indícios de uma "guerra química", que foi mencionada ontem em declaração do presidente Jair Bolsonaro. Sem citar a China, Bolsonaro insinuou que a pandemia seria um instrumento de guerra para garantir maior crescimento econômico. Questionado por Tasso Jereissati sobre os prejuízos de tal fala do presidente nas relações com a China, Queiroga disse que Bolsonaro não citou o país asiático e que espera não haver impacto no programa de imunização.
A observação do médico sobre Bolsonaro não ter citado nominalmente a China não agradou Jereissati. "Uma das declarações mais graves – e eu tenho repetido isso porque tem acontecido coisas nesse país totalmente inusitadas -, mais graves que eu já vi de um presidente da República no nosso País. Em circunstância normal essa declaração seria gravíssima", afirmou o senador.
Durante a resposta a Jereissati, Queiroga disse ainda que as relações com a China são "excelentes". "O que eu posso dizer pro senhor em relação a China, como eu já aqui reiterei para os demais senadores presencialmente é que a nossa relação com o embaixador da China é a melhor possível", afirmou.