O corte no questionário do Censo Demográfico, que vai a campo no País em 2020, motivou mais uma baixa no corpo técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 7. O gerente da Coordenação de Métodos e Qualidade, na área de Metadados, José Guedes, pediu exoneração, informou o sindicato de servidores do órgão, o Assibge.
Guedes foi o quinto servidor a pedir exoneração em menos de 24 horas. Na quinta-feira, 6, quatro servidores em posições de chefia já tinham entregado seus cargos em protesto contra a forma como a atual direção vem conduzindo os preparativos para o levantamento censitário. Os técnicos que pediram exoneração foram Andréa Bastos, assessora da Diretoria de Pesquisas; Marcos Paulo Soares, coordenador de Metodologia e Qualidade; Barbara Cobo, coordenadora de População e Indicadores Sociais; e Leila Ervatti, gerente de análise demográfica.
“O mais importante núcleo técnico ligado ao Censo Demográfico acaba de anunciar um pedido coletivo de exoneração por compreender que o processo vem sendo conduzido de forma inadequada, em desatenção às evidências técnicas sistematizadas em estudos sólidos apresentados à Direção do IBGE”, justificou na quinta uma carta sobre o pedido coletivo de exonerações, distribuída pelo sindicato.
Procurado pela reportagem, o IBGE informou, em nota, que “entende e respeita a decisão, por esta ser um direito dos servidores envolvidos”. Segundo o órgão, os cargos de chefia que ficaram vagos com os pedidos de exoneração serão ocupados por outros técnicos do instituto.
“O importante é unir forças para realizar um excelente Censo, preservando a missão institucional da Casa”, respondeu a assessoria de comunicação do órgão, em nota.
O anúncio da demissão coletiva foi feito durante o debate de lançamento da campanha Todos Pelo Censo 2020, na noite de quinta-feira, no Rio, onde fica a sede do instituto. No evento, que reuniu cerca de 300 pessoas, três ex-presidentes do órgão fizeram a defesa pública da manutenção do Censo conforme formulado pela equipe técnica: Roberto Olinto, Wasmália Bivar e Eduardo Nunes. Todos lembraram a excelência do trabalho exercido pelo instituto e pediram aos servidores presentes, vários ainda em cargo de gerência, que não abandonem suas posições apesar das supostas pressões e ingerências sobre o trabalho técnico do órgão.
“Há uma tentativa de descrédito à equipe do IBGE sistematicamente”, discursou Roberto Olinto, substituído no fim de fevereiro pela atual presidente, Susana Cordeiro Guerra.
Os técnicos presentes no debate desconstruíram argumentos da nova direção para justificar a necessidade de um censo mais enxuto. Wasmália Bivar, que antecedeu Olinto na presidência, lembrou que pesquisa amostral não alcança o nível municipal e que o órgão já utiliza registros administrativos há décadas na sua produção, apesar das dificuldades de obter informações com regularidade de órgãos oficiais. “Quem trabalha com registro administrativo sabe como é árduo manter esse acesso de forma consistente ao longo do tempo”, relatou Wasmália.
A ex-presidente lembrou ainda que o instituto já integra a Comissão de Estatísticas das Nações Unidas e que firma parcerias com países que produzem estatísticas de forma bem-sucedida, em uma crítica à busca de Susana por consultorias do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento. “Convidamos quem fez, não quem ouviu falar de quem fez”, disse na quinta Wasmália.
O Censo Demográfico foi orçado pela equipe técnica em pouco mais de R$ 3 bilhões, mas Susana Cordeiro Guerra anunciou que fará o levantamento com R$ 2,3 bilhões.
“O Censo deixou de ser Censo. O Censo virou uma contagem rápida de população”, criticou Eduardo Nunes, que presidia o IBGE no Censo de 2010.