Estadão

Quem é Eduardo Faustini, repórter secreto do ‘Fantástico’ que mostrou o rosto pela primeira vez

Desde a década de 1990, o repórter secreto do <i>Fantástico</i>, programa da Rede Globo, gerava curiosidade. Para proteger sua integridade física – e, ainda mais, o seu trabalho -, Eduardo Faustini, o jornalista por trás da função, nunca havia mostrado o rosto. Até agora.

Neste domingo, 20, a atração exibiu mais um capítulo de uma série de reportagens que comemora os 50 anos de exibição do programa. O episódio surpreendeu os telespectadores com a decisão de Faustini em mostrar a aparência pela primeira vez na televisão.

"O fato de eu não ser conhecido me possibilitou fazer inúmeras matérias de infiltração, de ir a lugares sem ser reconhecido", contou. "E agora já está na hora de descansar um pouco e não tem mais por que eu me esconder", disse Faustini antes de mostrar o rosto no <i>Fantástico</i>.

O jornalista não escondeu seu incômodo ao aparecer pela primeira vez na televisão. "Estou extremamente desconfortável fazendo isso aqui. Quando estou fazendo o meu trabalho, eu não sinto nada. Eu não posso tremer, eu não posso gaguejar, e isso possibilitou muitas denúncias importantes que nós fizemos ao longo dos anos", afirmou.

<b>Carreira</b>

Eduardo Faustini é um dos mais importantes jornalistas investigativos da atualidade. Começou a carreira como repórter investigativo na Rede Manchete em 1990, migrando para o SBT dois anos depois. Em 1995, ele começou a trabalhar na Rede Globo.

"Ele é um homem da primeira página", comentou Pedro Bial ao falar sobre a importância de Faustini para o <i>Fantástico</i>. O jornalista usava seu anonimato e câmeras escondidas para apurar, principalmente, denúncias de corrupção.

Em 2002, Faustini investigou um sistema de "rachadinhas" em um gabinete de uma prefeitura do interior do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o jornalista, foi a primeira vez em que se falou de "rachadinhas" na televisão.

Com suas reportagens, o jornalista coleciona diversos prêmios que recebeu ao longo da carreira, como o Prêmio Esso de Jornalismo, o Grande Prêmio Líbero Badaró e o Prêmio Embratel.

Neste último, Faustini recebeu o primeiro troféu na categoria Tim Lopes, criada para homenagear outro grande jornalista investigativo brasileiro. Na ocasião, o repórter foi reconhecido por uma denúncia da "Máfia das funerárias", um esquema que envolvia médicos e funerárias em atestados de óbitos comprados.

A partir de 2014, ele passou a estar à frente da série <i>Cadê o dinheiro que estava aqui?</i>, na qual investigava esquemas de desvio de dinheiro público. Uma das denúncias que mais gerou repercussão envolveu obras paradas para a Copa do Mundo em Cuiabá em 2015. Faustini descobriu que R$ 640 milhões foram desviados de projetos que nunca haviam sido concluídos.

Durante a participação no <i>Fantástico</i> neste domingo, o jornalista comentou sobre a responsabilidade e as consequências de seu trabalho. "Essas pessoas são processadas, presas, empresas são fechadas, casamentos são desfeitos. Eu sabia o peso dessa responsabilidade. Eu tenho ideia que sacrifiquei a minha família, a minha mulher, o meu filho, e eles nunca me cobraram", disse.

Faustini se emocionou ao contar que o filho teve de fazer faculdade com policiais na porta da sala de aula. "Tem esse lado, que eu não posso negar que aconteceu e faz parte da minha vida. Graças a Deus, eu estou aqui e só tenho gratidão", relatou.

O jornalista anunciou que deixaria o programa após 26 anos em uma publicação feita no Twitter em 2021. "Saio com a paz da missão cumprida e com o coração explodindo de tanto carinho vindo dos meus colegas deste imenso país. Eu não imaginava ser tão querido. Esse é, sem dúvida, o maior patrimônio que construí", escreveu à época.

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