Opinião

Quer que embrulhe, senhor?


A determinação dos supermercados de não mais distribuírem as sacolinhas plásticas aos consumidores retrata bem como funciona o poder de persuasão por parte de um grupo econômico forte. O tema, que ganhou os debates nas últimas semanas, convenceu até pessoas de bem, sob o argumento de que querem proteger o meio ambiente. Não a toa, a maioria da opinião pública, mesmo penalizada, se coloca ao lado dos manipuladores.


A questão só tem a ver com o verde se for levado em conta que as notas de dinheiro são também conhecidas como verdinhas. Fora isso, só discursos politicamente corretos que de corretos não tem quase nada.


Se houvesse preocupação com o meio ambiente, o plástico seria banido das prateleiras dos supermercados e não apenas dos caixas. Exercício rápido: pare entre uma gôndola e outra e sem se mexer conte quantas embalagens de plásticos você pode visualizar. Todas elas, diferente das nobres e injustiçadas sacolinhas, vão para o lixo. Acabam nos aterros sanitários e demorarão décadas para se decompor.


Já as simpáticas sacolinhas, por sua vez, sem qualquer alarde, desde que surgiram nunca foram para o lixo. Elas se transformam no próprio lixo. Numa das poucas reportagens na televisão que discutiram o tema, uma menininha questionou: “como eu vou fazer com a caca do meu cachorro, agora?”. Simples, cara criança que terá muito o que aprender nesta vida: “vá até um supermercado e compre um porta-caca”. Aliás, essa é a ordem – que não aparece nas propagandas politicamente corretas, patrocinadas pelas entidades ligadas aos grandes hipermercados – para a substituição das sacolinhas: “vá ao supermercado e compre”.


Ainda dentro dos exercícios rápidos: no intervalo de sua novela preferida, não mude de canal. Assista os comerciais e veja quantas vezes você ouve “mais barato, mais barato”, “lugar de gente feliz”, “o barato é aqui”, entre outras mensagens bastante educativas.


Com certeza, entre três e quatro em cada bloco. Será que é coincidência então o fato da grande mídia garantir que a eliminação das sacolinhas é um mal necessário? Seria por acaso a aprovação maciça a esta medida estapafúrdia? Tudo bem.


Ninguém deve ser obrigado a entregar a mercadoria que você compra devidamente embalada. Isso seria apenas uma gentileza oferecida pelo estabelecimento comercial a fim de agradar sua clientela.


Assim sendo, como consumidor, darei preferência àqueles que me ofereçam o serviço após eu deixar parte das calças por lá. Quem sabe até com aquela perguntinha simpática: “quer que embrulhe, senhor?”


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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