Um áudio do presidente do clube Grêmio Náutico União (GNU), Paulo José Kolberg Bing, vazou nas redes sociais na noite desta terça-feira, 18. Na gravação, ele atribui à roupa e ao gesto político de Seu Jorge no palco o desrespeito mostrado por parte do público.
O cantor se apresentava no clube quando foi vítima de racismo, na última sexta-feira, 14. Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ouvir ao final um grito de "macaco verme".
No áudio, o presidente do clube diz ainda que a "esquerda que quis criar um incidente" em cima do ocorrido. A reportagem entrou em contato com o clube para confirmar a autenticidade do áudio e não obteve retorno até a publicação deste texto. Porém, em entrevista concedida ao <i>G1</i>, Paulo Kolberg Bing confirmou que foi ele quem fez a gravação.
Em seu relato, ele diz: "eu tô bastante chocado com o que está saindo na mídia, a gente vê claramente que a esquerda quis criar um incidente com relação a esse show. Fiquei chocado com o jeito que o nosso artista chegou, porque o material de divulgação que nos forneceram era o Seu Jorge com um terno. Ele chegou com aquele moletom não sei por que, meio que dissociado ao clima do evento".
<b> Falta de decoro </b>
"Ao que me parece, foi uma falta de decoro, de respeito dele para com o público dele, da maneira como ele veio trajado, que não era adequada. Mas é artista", continuou. O dirigente, então, diz que as ofensas começaram quando o cantor fez um gesto político no palco e insinuou que o mesmo estava fumando maconha.
"No contrato que eu fiz com a produtora e com ele ficou bem claro que era vedada qualquer apologia política durante o show. E me parece que, depois, ele fez um sinal político ali, de um L (…) Foi uma falta de decoro dele com o público, da maneira como ele veio trajado, que não era adequado para um artista e, depois disso, fumado no palco, e me disseram que era uma outra substância", disse
Paulo Kolberg Bing também alegou que o clube não tem preconceito por contratar um músico negro. "Pessoas maiores estão querendo tirar um aproveitamento político do episódio, a maneira como eles retratam, o União e a nós como 100% brancos. Nós escolhemos um artista negro, já mostra por aí que não tem preconceito nenhum", garantiu.
<b>Seu Jorge se pronunciou sobre ataques</b>
Na noite de segunda-feira, dia 17, o cantor chegou a se pronunciar sobre os ataques que sofreu no show. Em vídeo intitulado Meu Rio Grande do Sul e com a bandeira do Estado ao fundo, o artista relatou como tudo aconteceu, destacou o desencanto com a capital "que aprendeu a amar" e conclamou todos a uma luta antirracista.
"A verdade é que eu estava bastante empolgado porque já fazia um certo tempo que não me apresentava em Porto Alegre com a minha banda. Não reconheci a cidade que aprendi a amar e respeitar. Não era a cidade que eu conhecia, dos inúmeros shows com as bandas amigas. Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista", detalhou.
Seu Jorge também aproveitou o pronunciamento para agradecer o apoio que recebeu. "Quero aqui agradecer imensamente o carinho e suporte que recebi de toda a gente de Porto Alegre que se sensibilizou com o que aconteceu e me mandou mensagens de apoio a mim e de repúdio ao comportamento de alguns no clube".