Rafael Moura sempre foi um garoto inquieto. Na adolescência, brilhava no bicicross enquanto se preparava para o futebol. Na juventude, se dedicava a uma carreira já bem-sucedida como atacante ao mesmo tempo em que se divertia com outras modalidades no tempo livre. Agora, adiou sua aposentadoria dos gramados, porém já projeta uma carreira de jogador profissional de beach tennis. Mas não descarta mudar de rumo, afinal está finalizando curso na CBF para ter licença de treinador.
Fôlego para tudo isso ele garante que tem, na entrevista de uma hora que concedeu ao <b>Estadão</b>. O goleador é fominha também fora dos gramados: não perde uma oportunidade de aprender, acumula cursos na área esportiva e de gestão e tem potencial para virar um modelo bem-sucedido de pós-carreira para outros atletas.
O atacante atendeu a reportagem ao fim de um dia cheio, recheado de atividades físicas e teóricas, como tanto gosta. O veterano com "gás" de garoto também gosta de estar preparado para qualquer oportunidade. Por isso, sua rotina tem treinos físicos, que podem ser úteis tanto para o futebol quanto para o beach tennis, e atividade prática, com a raquete na mão. À noite, finaliza o curso para obter a Licença B de treinador junto à CBF.
Aos 39 anos, Rafael Moura diz que ainda não é um ex-jogador de futebol. Seu último clube foi o Botafogo, na campanha vitoriosa da Série B do ano passado. O atacante chegou a negociar a renovação do contrato para jogar neste ano, mas a mudança do futebol do clube para o modelo SAF (Sociedade Anônima do Futebol) alterou os rumos da conversa entre as partes.
"Eles queriam enxugar a folha, como o Cruzeiro fez. E os mais velhos de idade e de tempo de clube foram deixados de lado no planejamento", explica o jogador, com passagens por Corinthians, Internacional, Atlético-MG, Fluminense, entre outros. "Mas estou na pista, esperando alguma coisa. Estou bem física e mentalmente, me sinto preparado para encarar uma temporada", diz o atacante, acostumado a ser artilheiro por onde passa.
Enquanto aguarda pelo retorno aos gramados, Rafael Moura investe em sua "nova" paixão. "O beach tennis tem me ajudado neste processo de transição (de carreira). É uma atividade física e psicossocial, tem me ajudado a crescer mentalmente."
O versátil atleta se diz apaixonado pelos esportes de raquete "desde sempre". Aprendeu a jogar tênis na juventude, praticou padel e squash. Em 2013, descobriu o tênis jogado nas areias, que lembra muito o futevôlei, outro esporte que muito já jogou. E não largou mais a raquete. Tanto que caminha a passos largos para a profissionalização. Ele até já soma pontos no ranking da Federação Internacional de Tênis (ITF), entidade que também abraça o beach tennis.
"Muito provavelmente a areia e o beach tennis serão o meu futuro profissional. Na área dos negócios, em um pós-carreira, escolhi me preparar para um lado mais comercial e empresarial, juntando a fome com a vontade de comer. Eu junto a minha paixão com a minha vontade de me desafiar num novo esporte, jogando profissionalmente, mesmo já tendo praticado o futebol com excelência", afirma.
O envolvimento com duas modalidades tão diferentes ao mesmo tempo não é algo novo para o atleta. "Já fui campeão mundial de bicicross (atual BMX) na minha infância, disputei Sul-Americano. Sou nove vezes campeão brasileiro, nunca perdi um brasileiro de bicicross na minha vida. E agora, mesmo pensando em futebol e beach tennis, vou continuar jogando basquete, handebol sou aficionado por desafios e modalidades", enumera.
"Meus amigos brincam comigo que o futebol é o meu pior esporte. Isso é até um elogio porque se, cheguei no nível de futebol que consegui e se eles consideram as outras modalidades melhor do que o futebol, mostra como eu levo a sério as outras modalidades."
O INÍCIO DO PÓS-CARREIRA
Rafael Moura começou sua transição de carreira há oito anos, uma antecipação rara no mundo do futebol. "Sempre fui um cara extremamente inquieto, tanto em modalidades quanto em busca de conhecimento. Nunca fui fã de frequentar um resort e ficar sete dias sentado e tomando suco e comendo camarãozinho empanado. Não é muito a minha praia", diz o atleta, que chegou a ser aprovado no vestibular para Educação Física, aos 17 anos, mas não cursou a faculdade porque estava se tornando profissional no futebol.
Seu processo de pós-carreira começou em 2014, com cursos de gestão, de análise de desempenho e de preparação física. "Sou um estudante de futebol. Sempre fui um cara questionador, do bem. Não era para ser contra a comissão técnica. Queria saber o que o treinador queria de mim, em qual função eu poderia jogar da melhor maneira. Mas precisava entender os porquês de tudo e comecei a buscar esses aprendizados na literatura. Queria me tornar um atleta melhor. Em contrapartida, já estava me preparando para caso eu quisesse me tornar um gestor no futuro."
Incansável, Rafael Moura não descarta nenhuma opção para os próximos anos. Pode acertar contrato para uma temporada de despedida no futebol ainda neste ano, pode virar treinador (o curso acaba em agosto) e pode mergulhar mais fundo no beach tennis, onde se envolve como atleta e empresário.
"Poderia agora no meu pós-carreira, cansado de viajar, de hotel e avião e de rotina de treinamentos, resolver ter alguns anos sabáticos. Mas eu me desafio a enfrentar e pagar o preço de ter que acordar de manhã para fazer um treino físico, um treino técnico à tarde, pegar livros, assistir muitos vídeos no YouTube para tentar aprender e chegar perto do nível dos fenômenos", diz ele, já pensando no Top 50 do ranking mundial da modalidade.
"Mas nada me impede de, daqui a pouco, querer um outro esporte. Consigo fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo agora." Diante de tanto fôlego e tantas possibilidades, só uma coisa é certa no futuro do atacante: ele não vai ficar parado.