Três meses atrás tive a oportunidade de assistir, no Adamastor, em Guarulhos, um show de Rafinha Bastos, até duas semanas atrás, um dos três homens de preto que comandam o impagável Custe o Que Custar, o CQC, na TV Bandeirantes. Logo no início do show, com a irreverência e espontaneidade que se tornaram suas marcas, ele comentou que não gosta do serviço de telefonia da Nextel. No meio das críticas, diz que é um equipamento usado por traficantes. E dispara: “Tanto eles sabem disso que escolheram o (ator) Fábio Assumpção para fazer o comercial”.
Não era novidade para ninguém que o ator global conviveu por muito tempo com problemas relacionados à droga, chegando a ser afastado pela emissora – mais de uma vez – de suas novelas. Lógico que pega mal tripudiar contra esse tipo de problema pessoal. Porém, dentro do mundo de Rafinha, que vive do humor, acaba sendo combustível para fazer o público rir. E lembro que o teatro caiu na gargalhada, numa demonstração quase que de aprovação à piada – para muitos – de gosto discutível.
Três meses se passaram e em momento algum ouvi qualquer crítica a essa piada, que se repete a cada show de Rafinha, que faz vários todas as semanas pelo país. Fico imanginando que milhares, assim como ocorreu em Guarulhos, riram da desgraça da Nextel. Bastou ele ser tripudiado por toda a mídia, por um comentário infeliz que fez durante o CQC sobre a “cantora” Wanessa Camargo, para que o mundo caísse sobre sua cabeça.
No início desta semana, me deparo com uma notícia de grande repercussão. Ele respondeu de forma muito deselegante (para não dizer outra coisa) a uma repórter da Folha de S.Paulo, que foi repercutir com ele a mesma piada, repetida no fim de semana passado em show realizado em São Caetano.
Na reportagem, havia até a posição da Nextel à respeito e considerações sobre a recuperação de Fábio Assumpção. Lógico que, neste contexto, o jornal apresentava como novidade mais um atentado contra os bons costumes cometidos por Rafinha.
Longe de defendê-lo, só exponho a situação para ilustrar algo que a gente convive há muito tempo: o poder da mídia em criar ou destruir mitos. Ora, a piada sobre Assumpção será que é pior que o monte de notinhas que sites e revistas de fofocas publicaram sobre os problemas enfrentados pelo ator? Creio que não. Apenas agora, a bola da vez se chama Rafinha Bastos. O momento é de destruí-lo, custe o que custar. Isso eu não concordo.
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr