Rico Dalasam, somente aos 26 anos, pode se reconectar com a hereditariedade cultural vinda de sua mãe. Ela deixou Itabuna, município no sul da Bahia, aos 13 anos, para trabalhar em uma casa de família em São Paulo. E aqui nasceu Jefferson Ricardo da Silva, o Rico, figura das mais coloridas do hip-hop nacional.
A imagem criada pelo jovem da Bahia formou-se na cabeça dele a distância. O rapper foi capaz de pisar em solo baiano – e pernambucano, cearense, paraibano e potiguar – em outubro e novembro do ano passado, quando passou por esses Estados em uma turnê por festivais de música independente durante um mês. O impacto foi profundo. E estará em abundância no primeiro álbum do rapper paulistano, ainda sem nome, cuja previsão é ser lançado em maio deste ano. “Claro, com conexão com a internet, a gente pode ouvir qualquer tipo de som. Mas nada se compara a ouvir a música local estando lá. A canção está englobada pela cultura local”, explicou o rapper. “Fui impactado por isso. Escrevi muita coisa (do disco de estreia) nessa passagem por essas paisagens nordestinas.”
Nesta sexta, 15, Dalasam exibe pedaços desse novo repertório na estreia da turnê Fervo do Dalasam, em uma especial apresentação no Sesc Pompeia, em São Paulo. O rapper, agora, é acompanhado por uma banda e planeja, a cada novo show, ter um convidado distinto. Neste primeiro, ele se junta a Thiago Pethit, músico que há tempos reverbera entre pop o rock no cenário paulistano e musical. Dalasam mostra Quero Ser Seu Cão, composição do convidado em parceria com Helio Flanders, enquanto Pethit se joga em Deixa, faixa que integra o primeiro EP do rapper, Dalasam, lançado no ano passado.
Com Modo Diverso e suas cinco faixas – entre elas, Aceite-C, um dos hits mais tocados nas festas descoladas e inclinadas ao hip-hop paulistanas -, Dalasam pediu passagem ao longo de 2015. Nunca escondeu a sexualidade (por que o faria, afinal?) e, dessa forma, figurou como desbravador do queer rap brasileiro, algo já consolidado nos Estados Unidos. Deu início a uma importante quebra das barreiras de gênero no hip-hop, falou, fez sua militância. Figurou nas reportagens de comportamento da sexualidade dentro do rap. Mexeu na ferida e, ao passar dos meses, a cada show, a cada festival e a cada apresentação no exterior (passou por Europa e Estados Unidos), garantiu o espaço para a sua música. O novo ano deve fortalecer a figura musical de Dalasam, com um primeiro álbum e mais um punhado de shows pelo País. O álbum, ele conta, une o “vento do Nordeste”, com algumas referências de música árabe, que sempre lhe chamava a atenção. Ainda há o “dedo na ferida”, como diz o rapper, mas existe espaço para a celebração. “O EP (mais combativo) serviu para as pessoas saberem que existo. Consegui ser claro com aquelas músicas. Dizer como eu amo, como eu me vejo. Agora, o disco tem a intenção de celebrar, de não querer deixar de mexer o corpo, do começo ao fim, até nos momentos das canções mais românticas.”
É o caso da música Paz, Coroas e Tronos, única já lançada desse trabalho de estúdio. Na capa, Dalasam mostra a época em que usava cabelo, barba e sobrancelhas descoloridas, exibidos por uma máscara de guerreiro medieval comprada durante um festival de música em Manchester, na Inglaterra. “É a imagem de um soldado, mas um tipo anti-herói. Uma desconstrução completa, um cara negro com cabelos claros”, ele diz.
A posição conquistada, agora, será defendida. “É preciso manter a cabeça fria, pés no chão. Seria presunção dizer que as coisas já estão prontas. É uma construção constante.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.