Um grupo formado por pouco mais de dez crianças entre 8 e 12 anos correm, numa sexta-feira de tempo nublado, atrás de uma bola na rua Solenópole, no Parque Uirapuru, na região de Cumbica, em Guarulhos. Até aí nada demais. Afinal, é comum – principalmente em bairros afastados do Centro – crianças e adolescentes se divertirem no meio do asfalto entre a passagem de um carro e outro.
O que chama a atenção é que o grupo brinca em frente a uma quadra de futebol, numa área pública, que fica ao lado de um grande campo ainda em terra conhecido como Campo do Faria. A quadra está imprópria para a prática de qualquer tipo de esporte. As traves estão quebradas e o piso de cimento quase esfarelado está tomado pelo mato. Porém, o que aquelas crianças não sabem – e provavelmente nem seus pais – é que a Prefeitura de Guarulhos teve liberado pela Caixa Econômica Federal nada menos do que R$ 243.750,00 para a reforma daquele espaço.
Um convênio assinado em 30 de dezembro de 2011 que expira em 30 de novembro deste ano previa a reforma da quadra com dinheiro que viria do Ministério dos Esportes para a Prefeitura de Guarulhos. No entanto, a obra nunca teve início e a cidade corre o risco de perder o dinheiro e as crianças, a quadra. A Prefeitura deveria dar a contrapartida de apenas R$ 21.195,65. A situação é a mesma em outros seis contratos cujas verbas deveriam ser repassadas pela Caixa a Guarulhos desde 2008, o que totalizaria R$ 11.718.740,00.
Segundo a reportagem apurou junto a fontes da Secretaria de Esportes, a ausência das obras, apesar de haver dinheiro, ocorre por pura falta de competência da atual administração do prefeito Sebastião Almeida (PT). A explicação é simples. Essas verbas são solicitadas pelos municípios e aprovadas pelo Governo Federal que, para liberá-las, exige um projeto executivo, à cargo da Secretaria Municipal de Obras. Como a Prefeitura não conta com corpo técnico suficiente para as demandas, os projetos não são feitos e o dinheiro acaba não vindo.
O absurdo é tão grande que dos R$ 11,7 milhões disponíveis para Guarulhos, chegaram aos cofres do município apenas R$ 258.500,00, já que a Caixa apurou que – dos sete contratos – apenas um teve as obras iniciadas. Mesmo assim, na medição realizada em maio de 2011 pela instituição federal, só 2,35% de serviços foram realizados. Inexplicavelmente, mesmo após constatar que pouca coisa foi feita, a Caixa liberou R$ 195 mil, 50% do valor previsto para a construção de um centro poliesportivo (local não informado) de um repasse estabelecido em R$ 390 mil.
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