Estadão

Rayssa abraça a mãe, reúne multidão, fala em inglês e ganha o bronze ao som de Djavan em Paris

Paciente, uma jornalista americana esperou mais de uma hora para falar com Rayssa Leal. A profissional era a única da imprensa estrangeira posicionada para ouvir a brasileira depois de ela levar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Foi recompensada.

Rayssa foi gentil. Depois de comemorar a medalha com um abraço na mãe, atender a uma multidão de voluntários e fãs que pediram fotos e autógrafos e ser parada a cada passo, a adolescente deu entrevista em inglês à jornalista. Contou ter se sentido feliz, é claro, por ter faturado sua segunda medalha olímpica aos 16 anos, o que a fez ser a atleta mais nova da história a registrar o feito.

Minutos depois, a jovem parou para falar com a imprensa brasileira. Simpática, calma e muito mais acostumada com o bônus e ônus de ser uma estrela, a maranhense de Imperatriz contou o que mudou nela em três anos, desde a prata em Tóquio até o bronze em Paris.

"Mudou tudo. Só no primeiro ano eu cresci 10 centímetros", disse. "Entendi o peso da Olimpíada. Vim para Paris com outra mentalidade, outro foco. Todos queriam o ouro, eu não era diferente. Por isso eu acabo me cobrando um pouco mais, mas deu tudo certo."

Na pista, Rayssa Leal chorou, sorriu e fez a maior nota na história das olimpíadas até então durante a fase classificatória. Na fase final, admitiu que se sentiu pressionada, errou duas manobras consideradas simples por ela, mas chamou a torcida, se concentrou e reagiu na última tentativa para saltar do quinto para o terceiro lugar.

"Fiquei pressionada, não de um jeito ruim, mas para acertar tudo para comemorar", reconheceu ela. "Foi o campeonato em que mais fiquei nervosa. Já sabia o que tinha que fazer, comecei a me cobrar bastante, mas depois entendi que era só colocar um sorriso no rosto mesmo."

Rayssa funciona sob pressão, mas nem sempre. O que lhe ajudou a relaxar e reagir no fim para subir ao pódio foi a música que tocava em seu fone de ouvido, em especial "Amor Puro", canção que Djavan compôs nove anos antes de a skatista nascer.

"Como estava muito ansiosa, coloquei pra tocar Um amor puro , do Djavan", revelou ela, que também afirmou ter ouvido Mudar pra Quê , da dupla Os Nonatos, desfeita em 2019, e É o Amor , música que se tornou famosa nas vozes dos sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano.

Embora esteja mais alta, mais experiente e mais madura, a brasileira costuma dizer que não sabe ainda o seu tamanho e a inspiração que provoca em outras jovens esportistas. Mas com a exposição que veio graças ao seu sucesso no esporte ela já se habituou.

"É de boa, eu me acostumei, me adaptei muito fácil", declarou. "Desde aquele vídeo com 7 anos (em que anda de skate vestida de fadinha) em Imperatriz já era meio bagunçado, o pessoal pedia para tirar foto. Eu cresci com isso."

Rayssa vai seguir comemorando em Paris e no Brasil. Mas quando retornar, terá de voltar à vida de adolescente comum, embora não seja uma. "Vou estudar, em agosto voltam as aulas."

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