O anel de proteção ao redor do Endurance, um dos naufrágios mais famosos de todos os tempos, localizado nas águas da Antártida, será ampliado de 500 m para 1.500 m para restringir atividades próximas ao navio, cuja localização exata levou mais de um século para ser descoberta. A mudança faz parte de um plano internacional elaborado e publicado na semana passada pelo UK Antarctic Heritage Trust (UKAHT) e pela Historic England, para conservar o local, informou o <i>The Guardian</i>.
De acordo com o jornal britânico, o Endurance será preservado in situ, ou seja, onde está situado, e todas as atividades serão realizadas com o objetivo de preservar e melhorar o local. Nada será removido ou depositado do naufrágio, nem na área ao redor. A biodiversidade, habitat e ecologia do naufrágio serão registrados e preservados, destaca a reportagem. Quando o Endurance foi encontrado, em 2022 , também foi descoberto que o navio era o lar de anêmona-do-mar, lírios-do-mar, estrelas-do-mar e esponjas.
Camilla Nichol, executiva-chefe da UKAHT, disse que o naufrágio já está "muito bem protegido" a 3.000 metros abaixo da superfície do remoto Mar de Weddell, destacou o The Guardian. "Mas agora que sua localização é conhecida, as pessoas estarão mais interessadas em ir visitar, e a mudança climática significa que o local se tornará mais acessível", completou.
O Endurance foi encontrado nas águas geladas da Antártida em 2022. Ele não era visto desde que foi esmagado pelo gelo e afundou no Mar de Weddell em novembro de 1915. As filmagens mostraram que o navio de 44 metros estava intacto.
<b>História de superação</b>
O veleiro de três mastros se perdeu em janeiro 1915 durante uma tentativa fracassada de Shackleton de fazer a primeira travessia terrestre da Antártida. Ele tentou cruzar a Antártida, em uma travessia de 2.900 quilômetros através do continente gelado, do Mar de Weddell ao Mar de Roos, passando pelo Polo Sul. Sob seu comando, os 27 homens da embarcação queriam ser os primeiros a cruzar a Antártida a pé.
O navio saiu de Londres, na Inglaterra, em 1914, um ano antes do naufrágio, em direção à baía do Mar de Weddell, ponto de partida da expedição para tentar cruzar o continente. Isso foi perto do fim do que ficou conhecido como a era heróica da exploração da Antártida, que incluiu caminhadas do norueguês Roald Amundsen, que em 1911 foi o primeiro a chegar ao Polo Sul, e de Robert Falcon Scott, um britânico que só chegou um mês depois e morreu no caminho de volta.
Esmagada pelo gelo espesso das águas marinhas, a embarcação Endurance ficou presa a menos de 160 quilômetros de seu destino, ficando à deriva. Ela foi perfurada pelo gelo e, dez meses depois, em novembro de 1915, afundou.
Os tripulantes caminharam pelo gelo marinho, vivendo de focas e pinguins. Depois, Shackleton e alguns tripulantes remaram cerca de 1.300 quilômetros no bote salva-vidas James Caird até as ilhas Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, onde encontraram ajuda em uma estação baleeira. Na quarta tentativa de resgate, Shackleton conseguiu retornar para buscar o restante da tripulação na Ilha Elefante em agosto de 1916, dois anos depois da sua Expedição Imperial Transantártica ter deixado Londres.
Embora não tenham alcançado o objetivo, a tripulação conseguiu se salvar, fato considerado como uma das grandes histórias de sobrevivência humana. Eles enfrentaram dois invernos no gelo sem nenhuma morte. Shackleton nunca chegou ao Polo Sul ou além, mas sua liderança no resgate de toda a sua tripulação e suas façanhas fizeram dele um herói no Reino Unido.
<b>Preservação</b>
Camilla Nichol aponta que o plano de conservação foi compartilhado com os outros 56 países signatários do Tratado da Antártida e recebeu 100% de endosso. O The Guardian destaca, que além de um acordo para estender a área de proteção ao redor do naufrágio, discussões começaram sobre se o local deve ser designado como uma área especialmente protegida da Antártida, à qual ninguém poderia se aproximar sem uma permissão específica e um motivo importante.
De acordo com o jornal britânico, os operadores de cruzeiros e empresas que são membros da Associação Internacional de Operadores de Turismo da Antártida concordaram em não se aproximar a menos de 80 quilômetros do local, mas há risco potencial no futuro devido a barcos de pesca e submarinos, informou Nichol. "Queremos que as pessoas se envolvam, mas elas podem fazer isso melhor por meios digitais."./ <b>Com informações de agências internacionais</b>