O real foi na contramão de outras moedas emergentes e operou valorizada ante o dólar na tarde desta quarta-feira, após uma manhã volátil. A divisa dos Estados Unidos teve dia de valorização praticamente generalizada no mercado internacional. No mercado doméstico, porém, fechou em queda, em meio às expectativas de avanço das reformas, que cresceram após a aprovação do novo marco legal do setor de gás na Câmara na terça à noite, e as reiteradas promessas de disciplina fiscal pelo governo.
Os mesmos fatores ajudaram o risco Brasil a cair abaixo de 200 pontos pela primeira vez desde 10 de março. No encerramento dos negócios nesta quarta, o dólar à vista fechou em queda de 0,51%, cotado em R$ 5,3575. No mercado futuro, o dólar que vence em outubro era negociado em baixa de 0,78% às 17h, em R$ 5,3625.
Profissionais das mesas de câmbio relataram ainda entrada de capital externo para várias ofertas de ações, em uma lista que já soma mais de 40 empresas e que cresce a cada dia. Ainda nas emissões, a Suzano anunciou captação externa, com teto de US$ 2 bilhões e precificação nesta quinta-feira. Contudo, os dados do Banco Central de agosto mostram que as saídas de recursos prosseguiram, somando US$ 5,366 bilhões até o dia 28 pelo canal financeiro, em mês marcado por aumento do temor fiscal, que diminuiu apenas nos últimos dias.
O sócio fundador da Polo Capital, Claudio Andrade, observa que a situação fiscal brasileira ficou muito agravada, mas tem havido consenso da necessidade de avançar com reformas, em meio a um juro historicamente baixo e inflação comportada. "Algum tipo de reforma tributária a gente vai ter que ter", disse ele em live nesta quarta da Genial Investimentos, ressaltando que a tramitação do texto junto com a reforma administrativa pode ajudar a dividir o "barulho" que as medidas propostas terão no Congresso, com vários grupos tentando definir seus interesses.
Para o sócio e economista-chefe da Pátria Investimentos, Luis Fernando Lopes, considerando o ajuste da taxa de câmbio pela Paridade de Poder de Compra (PPP), o real atualmente está 30% desvalorizado e o investidor estrangeiro ainda não conseguiu perceber que o Brasil terá este ano, e em 2021, recuperação econômica mais forte que outros países da América Latina.
Sobre a questão fiscal, Lopes disse que a impressão crescente é que a equipe econômica "traçou uma linha no chão" e não vai querer "explodir o teto e fazer política de expansão fiscal irresponsável para reeleger o presidente a qualquer custo. "Aparentemente Bolsonaro não quer provocar essa ruptura fiscal", disse nesta quarta em evento da Alper Seguros.
Os analistas do Citigroup em Nova York destacam que o avanço da reforma administrativa, a julgar por declarações anteriores de Bolsonaro, era esperado apenas para 2021, por isso foi positiva a afirmação de que o texto será entregue na quinta ao Congresso. Além disso, a prorrogação do auxílio emergencial, que agora será de R$ 300 por mês, veio dentro do esperado e não será necessário alterar novamente as projeções fiscais para o Brasil.