Em quatro anos, os repasses governamentais para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo tiveram aumento real sete vezes maior do que os custos dos atendimentos feitos na unidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mostram dados obtidos com a instituição com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo a entidade, o aumento nos repasses feitos pelo Estado e pela União serviu apenas para reduzir o déficit nas contas. O montante repassado, diz a Santa Casa, ainda não é suficiente para cobrir as despesas da unidade.
Os dados orçamentários mostram que, em 2010, a entidade recebeu dos governos federal e estadual cerca de R$ 315,1 milhões para o custeio do Hospital Central e de outras três unidades próprias que atendem exclusivamente a rede pública (Hospital Dom Pedro 2.º, Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental da Vila Mariana e Centro de Saúde Escola Barra Funda). Em 2013, o montante foi de R$ 445,7 milhões, aumento de 41%. Se descontada a inflação acumulada no período, a alta real foi de 16%.
Já os gastos com atendimentos nessas unidades passaram de R$ 400,4 milhões, em 2010, para R$ 500,4 milhões em 2013, alta nominal de 24% e aumento real de apenas 2%. Na comparação entre os dois aumentos reais, portanto, a alta nos repasses é sete vezes superior ao crescimento das despesas. No mesmo período, o número de pacientes atendidos cresceu 6%.
Segundo Antônio Carlos Forte, superintendente da Santa Casa, apesar da alta nos repasses, eles ainda são insuficientes para cobrir as despesas da entidade com os atendimentos feitos pela rede pública.
Forte afirma que, no ano passado, o custo dos atendimentos foi de R$ 500,4 milhões, gerando um prejuízo de R$ 54,6 milhões. Em 2010, o déficit havia sido ainda maior, de R$ 85,2 milhões. “Entre 2010 e 2013, o déficit anual diminuiu e, de fato, os repasses cresceram. Também é verdade que recebemos incentivos acima da tabela SUS. Mas a questão é que a verba ainda não cobre nossos custos”, diz ele.
O superintendente afirma que essa é a razão pela qual a alta dos repasses não foi acompanhada pelo mesmo crescimento no número de atendimentos. “Mesmo com os incentivos, a conta não fecha. Precisaríamos de R$ 4 milhões a mais por mês. E, mesmo que conseguíssemos esse valor a partir de agora, não conseguiríamos ampliar o atendimento porque esse dinheiro seria para que a gente deixasse de ter prejuízo”, diz.
Forte afirma que o pronto-socorro é a área do complexo hospitalar que dá o maior prejuízo. “Isso acontece porque o atendimento lá é imprevisível. Não sabemos quantos pacientes vamos ter por dia. Hoje (quarta-feira), por exemplo, temos 40 pacientes em macas no corredor, além dos 100 leitos ocupados. Por esses 40 pacientes, não recebemos nada porque maca não é considerada leito.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.