A agenda de viagens internacionais do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e de sua comitiva já era alvo de monitoramento por auditores da alfândega antes mesmo da apreensão das joias de R$ 16,5 milhões, em 2021. O <b>Estadão</b> apurou que a intensidade dos compromissos fora do País – dez viagens para o exterior em um único ano – já havia chamado a atenção dos órgãos de fiscalização.
O <b>Estadão</b> fez um levantamento sobre todos os compromissos oficiais de Bento Albuquerque registrados em sua agenda como ministro, desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, até deixá-lo, em maio de 2022, em meio às pressões de Bolsonaro para intervir no preço da Petrobras.
Os dados mostram que as viagens do almirante só cessaram em 2020, por causa da pandemia. Em 2019, foram dez viagens ao exterior, englobando Israel, Estados Unidos, Argentina, Japão, China, Áustria, França e Espanha. Em alguns compromissos, o então ministro acompanhou Jair Bolsonaro. Em outros, seguiu com sua comitiva para eventos ligados ao setor de minas e energia.
Em 2020, com a crise sanitária, o número de viagens caiu consideravelmente, resumindo-se a três compromissos. Bento Albuquerque esteve na Índia, nos EUA e na Áustria, para a conferência anual do setor elétrico. Em 2021, o ritmo voltou a acelerar, mesmo com as restrições impostas pela covid-19. Naquele ano, Bento Albuquerque participou de seis encontros internacionais. Passou por EUA, Áustria, Rússia, Inglaterra e Emirados Árabes. Foi em 2021 que o então ministro fez a visita à Arábia Saudita.
<b>Príncipe</b>
Antes de voltar ao Brasil, em 26 de outubro de 2021, e tentar entrar no País de forma ilegal com as joias dadas a Bolsonaro e à então primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo regime saudita, Bento Albuquerque teve compromissos por quatro dias, incluindo encontro com o príncipe Abdulaziz bin Salman Al-Saud, ministro de Energia da Arábia Saudita, e o príncipe Mohammed bin Salman.
Foi na despedida desta viagem que um representante do regime árabe apareceu com os presentes para Bolsonaro. No mês seguinte, em 19 de novembro, quando a Receita já havia retido as joias, Bento Albuquerque falou por telefone com o ministro de Energia da Arábia Saudita. Em 22 de novembro, participou de encontro no Ministério das Relações Exteriores, com o embaixador Carlos França. Três dias depois, fez reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino da Arábia Saudita.
Em nota, o Itamaraty disse que "está averiguando eventual gestão junto à Receita Federal no caso e contribuirá para seu esclarecimento". A embaixada da Arábia Saudita no Brasil não havia se manifestado até a noite de ontem.
<b>Negócios</b>
As relações estreitas que o governo Bolsonaro mantinha com o regime saudita envolveram anúncios de acordos bilionários feitos diretamente pelo então presidente brasileiro e por Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita.
Dois anos antes de a comitiva de Bento Albuquerque deixar a Arábia Saudita com as joias, presentes que seriam entregues ao casal Bolsonaro, o presidente brasileiro esteve em Riade para celebrar acordos de US$ 10 bilhões (R$ 51,7 bilhões no câmbio atual).
Em 29 de outubro de 2019, Bolsonaro celebrou a assinatura de acordo que previa o investimento bilionário no Brasil, por meio do Fundo de Investimento Público saudita, que exploraria "oportunidades em parceria com o governo brasileiro".
Na ocasião, o governo Bolsonaro disse que a Arábia Saudita era o principal parceiro do Brasil no Oriente Médio. O volume de intercâmbio comercial havia atingido US$ 4,42 bilhões em 2018. Tratava-se, também, do maior fornecedor de petróleo do Brasil, tendo suprido 33% do total importado do produto em 2018.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>