Se o Banco Central prevê queda de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, como consta do Relatório de Inflação divulgado na semana passada, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, estima um recuo de 1,8%, segundo o Boletim Macro Ibre de junho.
“Para quem esperava razão para otimismo nessa virada de semestre, é melhor não procurar apoio nos resultados dos indicadores conjunturais recém-divulgados”, afirmam os economistas Regis Bonelli, Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos, responsáveis pelo boletim – um estudo dividido em capítulos escritos por especialistas.
Além da redução do PIB, as previsões para este ano são de uma inflação de 8,9%, perda de renda dos trabalhadores, déficit na conta corrente do balanço de pagamentos de 4,5% do PIB, pressão dos juros reais elevados sobre o endividamento público e, por fim, um desempenho econômico medíocre também em 2016.
A contração do PIB estimada para o trimestre abril/junho é de 1,6%, mas o ritmo da queda cairá para 0,1%, no terceiro trimestre, e, “mantidas as tendências atuais, o PIB só voltará a crescer no último trimestre deste ano (0,2%)”.
Nas projeções do Ibre, o consumo das famílias cairá 1,1% neste ano; o consumo do governo, 1,2%; a formação bruta de capital fixo cederá 7,1%; a importação será 6,1% menor; e a exportação crescerá apenas 1,2%. Só o PIB da agropecuária deverá crescer (2,8%), prevendo-se queda de 6,7% da indústria de transformação (e alta de 7,4% da extrativa), recuo de 2,9% da construção civil e de 1,1% dos serviços.
A taxa média de desemprego de 2015 deverá ser de 8,1% (+1,3 ponto porcentual em relação a 2014) e a estimativa de queda da renda real é de 3%. Cai a renda e também o consumo, afetando setores que pesam muito no PIB: a crise no setor automotivo deverá contribuir, isoladamente, para 0,5 ponto porcentual da queda do PIB neste ano, segundo reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo.
No boletim da FGV, Silvia Matos nota que “as perspectivas para a economia mundial ainda continuam muito incertas” e que a economia doméstica, “nos últimos meses”, continuou “em processo de deterioração”. A demanda interna deverá se contrair mais que o PIB, devido ao ajuste macroeconômico. E há “um grande desafio no curto e no médio prazos na área fiscal”. O cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% neste ano e de 2% em 2016 “é missão quase impossível”.