Estadão

Recuo de NY por temor com juro nos EUA e preocupações internas derrubam Ibovespa

A queda das bolsas em Nova York impede nesta quinta-feira, 16, o Ibovespa de dar sequência à alta da véspera. Já a valorização das commodities entra como fator positivo, assim como a expectativa de que o anúncio do arcabouço fiscal será antecipado de abril para março, atenuando um pouco o recuo por aqui. Na quarta-feira, essa notícia voltada ao fiscal foi uma das que impulsionaram o índice Bovespa, que fechou com valorização de 1,62%, aos 109.600,14 pontos.

Depois da elevação na quarta-feira, hoje o Ibovespa cai desde a abertura e acentuou a queda, perdendo a marca dos 109 mil pontos, renovando mínimas, assim que foi divulgado o índice PPI dos Estados Unidos. O índice de inflação ao produtor do país de janeiro mostrou alta de 0,7%, maior do que a previsão de 0,4%. Preliminarmente, o resultado sugere que o Fed terá de ser mais duro em sua decisão sobre juros, com aumento de meio ponto porcentual, e não mais de 0,25 ponto.

"Tem esse fator do PPI que se soma a outros dados (varejo e produção industrial divulgados ontem, que vieram fortes)", diz o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.

Aqui, acrescenta o economista da Tendências, "a pressão sobre o Banco Central é grande. Saiu há pouco essa resolução do PT que só reforça isso. Os fundamentos indicam que não adianta querer mexer nos juros Selic, pois a curva é que vai determinar o nível. E se continuar essa pressão, a curva reagirá de forma contrária ao desejado pelo governo", avalia.

Hoje, o PT divulgou a resolução do Diretório Nacional carregada de críticas à política monetária do País. No documento, espécie de orientação para a postura dos filiados, defende a revisão das metas de inflação, corte da taxa básica de juros do País e a "convocação" do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo Congresso Nacional.

"As críticas do presidente Lula e de parte do governo ao BC são completamente desnecessárias e acabam contaminando a credibilidade. A tentativa de intimidar Campos Neto, de convocá-lo a ir ao Congresso para explicar os juros altos, realmente é algo que acaba gerando um temor institucional", avalia Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

Ao mesmo tempo, ficam no radar os resultados, de forma geral, menores do que o esperado do IBC-Br de dezembro e de 2022, e a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), às 15 horas.

Depois de dias de ruídos gerados pelo debate de mudanças de metas de inflação, o assunto não deverá ser tratado hoje pelo CMN. Ainda assim, o mercado ficará atento a eventuais comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de Simone Tebet (Planejamento) e de Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), que participam da reunião.

Ontem, Haddad voltou a criticar os juros elevados. "8% de taxa de juro real ex-ante não tem explicação. Todo mundo está com meta de inflação de 2% a 3%, mas com juros negativos, ninguém está trabalhando com juros reais maiores de 3% ou 4%", afirmou o ministro.

"Tudo isso causa instabilidade. Apesar de dizerem que anteciparão o anúncio do arcabouço fiscal para março, o mercado dá o benefício da dúvida em meio a essas pressões", acrescenta o economista da Tendências.

No exterior, o petróleo tem alta moderada, o que estimula algum ganho às ações ligadas ao setor, com Petrobras, por exemplo, subindo em torno de 0,20%. Já Vale, que divulga balanço depois do fechamento da B3, subia 1%, na esteira do minério de ferro, que encerrou em alta de 1,79% em Dalian, na China. A valorização puxa os demais papéis do setor. Em contrapartida, as ações de grandes bancos cedem.

Às 11h36, o Ibovespa caía 0,72%, aos 108.767,76 pontos.

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