Aos 25 anos, a angolana Mambo Beatriz Lenda trocou seu país natal pelo Brasil para escapar da violência doméstica. Consigo, trouxe apenas a filha de seis anos. Em São Paulo, encontrou mulheres em situação semelhante, como Viviana Sebastião, 36 anos, também de Angola, que mudou de país quando o marido, perseguido político, desapareceu. Pelos próximos dois meses, todas as noites, as duas vão frequentar aulas sobre a cadeia produtiva de moda junto com outros 13 refugiados africanos em um colégio em Santana, na zona norte de São Paulo. A ideia é que aprendam desde noções de empreendedorismo até técnicas práticas de costura para terem maiores chances de ingressar no mercado de trabalho.
“Desde que cheguei, há sete meses, não consegui emprego”, diz Viviana, que trabalhava como costureira em Angola. “Gosto da minha profissão e quero aprender o jeito de fazer moda no Brasil para poder continuar costurando.” O curso faz parte de um projeto criado pelo Instituto Lojas Renner com a ONU Mulheres. “São pessoas muitas vezes já capacitadas, que estão no Brasil há meses, mas não conseguem emprego”, explica Vinicios Meneguzzi Malfatti, diretor executivo do instituto. Até o fim do ano, o plano é dar aulas para mais duas turmas e buscar parcerias com a cadeia de fornecedores da própria loja para empregar os alunos.
Embora tenha como público alvo as mulheres, dois homens também frequentam esta primeira turma do curso. Um deles é o pedagogo Nguala Basilna Doris, 40 anos, que fugiu da guerra civil da República do Congo há um ano. “Adoro moda e costura. Também costurava no meu país, então fiquei feliz quando soube das aulas”, diz ele, que levou seis meses para localizar a esposa e os cinco filhos após chegar a São Paulo, no ano passado. Sem emprego desde então, ele diz ter esperança de encontrar algo ao concluir o curso. “As pessoas valorizam mais quem tem algum certificado, estou otimista e quero poder viver em paz”, afirma.