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Redes sociais falham em cumprir resoluções contra desinformação

A dois meses da eleição, as plataformas de tecnologia – como aplicativos de mensagens, redes sociais e sites de veiculação de vídeos – ainda representam entraves no enfrentamento às fake news, aponta relatório de pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Apesar de firmarem memorando de entendimento com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as big techs falham na checagem de conteúdos, na agilidade para processar denúncias e na transparência para combater a desinformação, segundo o relatório.

O levantamento é dos pesquisadores Rodrigo Carreiro e Maria Paula Almada sobre o acordo feito pelas plataformas digitais com o TSE em fevereiro deste ano. Carreiro e Almada acompanham o cumprimento dos memorandos da Corte por Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), Google (YouTube), TikTok, Twitter, Telegram e Kwai. Eles pontuaram também a situação do LinkedIn e do Spotify, que firmaram o acordo mais tardiamente. A maioria das ações já foi implementada, mas há ainda brechas que reforçam a preocupação com a desinformação no período eleitoral.

A celeridade, ou a falta dela, é um dos pontos destacados pelos pesquisadores. "O processo eleitoral é muito dinâmico e, desde o último pleito, o período de campanha oficial foi reduzido para cerca de dois meses", diz o texto. De acordo com Carreiro, o prazo ideal para se analisar e retirar conteúdos duvidosos do ar seria entre 24 horas e 48 horas. Hoje, não há um prazo.

"Embora as plataformas tenham demonstrado algum interesse em resolver o problema (da desinformação), os avanços significativos e mais práticos são bem pequenos, bem superficiais, em relação ao problema", disse Carreiro.

O <b>Estadão</b> questionou as empresas sobre qual o prazo-limite para processar uma denúncia, mas nenhuma delas respondeu. Procurado, o TSE admitiu que a agilidade na resolução de casos de desinformação é um dos tópicos em que se deve avançar no relacionamento com as plataformas digitais. "Há margem para avanços no campo da transparência, na celeridade do tratamento dos apontamentos de desinformação, no suporte a agências de checagem de fatos, e, ainda, em questões relacionadas com a monetização."

A Corte informou ainda que oito servidores públicos estão dedicados à atuação com as plataformas – número que tende a aumentar à medida que a votação se aproxima.

<b>BRECHAS</b>

O relatório destaca, em especial, brechas nas redes sociais do grupo Meta (Facebook, WhatsApp e Instagram) e no Google (YouTube). O Facebook, por exemplo, não garante que notícias falsas serão removidas, mas terão apenas o alcance reduzido. Para os pesquisadores, a medida não enfrenta o problema, "apenas dá mais trabalho para os propagadores desse tipo de conteúdo, que pode ser replicado infinitamente por diversos perfis diferentes", algo não considerado no memorando.

Em nota, o Meta diz que Facebook e Instagram criaram canais diretos de denúncias para o TSE e exibirão, em breve, lembretes sobre o dia de votação no Brasil. O grupo afirma ter um núcleo de segurança e integridade com mais de 40 mil colaboradores, que também vão atuar no Brasil, sem revelar o contingente.
Sobre o WhatsApp, o relatório aponta que a identificação da origem do conteúdo é "crucial" para punir casos graves. Porém, aplicativos de mensagens não verificam conteúdos trocados entre os usuários em razão da criptografia. A inteligência artificial do WhatsApp consegue apenas rastrear um volume suspeito de mensagens disparadas em massa.

Conteúdos ainda que sabidamente falsos não recebem um alerta imediato para a checagem. Ao <b>Estadão</b>, o WhatsApp afirmou que já estabeleceu parceria com cinco agências de checagem de fatos, e espera ainda a inclusão de pelo menos mais uma.

Segundo o relatório, o Twitter aplicou todas as medidas firmadas no memorando com o TSE. Em julho, a rede social anunciou um novo pacote de medidas para combater a desinformação.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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