Estadão

Redução do balanço de ativos deve levar alguns anos, afirma presidente do Fed

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, disse que a redução do balanço de ativos da autoridade monetária pode se estender por anos. Atualmente, é de US$ 8,4 trilhões, conforme ele. "Estamos no processo de encolher o balanço ativamente, na verdade, passivamente… O balanço está diminuindo", afirmou Powell, durante evento promovido pelo Clube Econômico de Washington, nesta terça-feira.

Segundo ele, o Fed não estabeleceu um patamar específico para o dólar e o ritmo de venda de ativos para redução do balanço será desacelerado quando as reservas voltarem ao nível pré-pandemia.

"Então, vamos desacelerar e vamos testar onde estamos, mas eu penso que isso vai demorar alguns anos", explicou o presidente do BC dos EUA.

<b>Teto da dívida</b>

Powell voltou a alertar sobre a importância de o Congresso elevar o teto da dívida dos Estados Unidos. Na sua visão, essa é a única alternativa e o BC dos EUA não tem o papel de formular políticas para as questões fiscais nem capacidade de proteger a maior economia do mundo caso o país não honre suas contas. "Isso realmente só pode terminar de uma maneira e é com o Congresso aumentando o teto da dívida em tempo hábil para que os EUA possam pagar todas as suas contas", afirmou.

Ele também reforçou que o Fed não pode proteger a economia dos EUA caso o Congresso não aprove nova elevação do teto de dívida dos EUA a tempo. "E se isso não acontecer, ninguém deve pensar que o Fed tem a capacidade de proteger os mercados financeiros ou a economia das consequências de um movimento muito lento", disse. "O limite da dívida é algo com o qual o Congresso tem que lidar… Como eu disse, isso só termina de uma maneira, que é a votação do Congresso para aumentar o teto da dívida para que os EUA possam pagar todas as nossas contas", reforçou.

<b>Mercado de trabalho</b>

O presidente do Federal Reserve afirmou ainda que o mercado de trabalho nos Estados Unidos "está forte" porque a economia "está forte". Ele reafirmou que é positivo ver o início da desinflação no país sem ser às custas do mercado de trabalho local.

"Há muita demanda por trabalhadores. Na verdade, a demanda por trabalhadores dos EUA é agora mais de 5 milhões maior do que a oferta disponível", disse Powell.

Segundo ele, a pandemia deixou marcas duradouras na oferta de mão de obra, na força de trabalho dos Estados Unidos. "A taxa de participação caiu e agora há uma escassez de trabalhadores e parece quase mais estrutural do que cíclica. Essa é uma questão significativa", disse.

<b>Desafio da inflação</b>

O presidente do Federal Reserve disse que o maior desafio que a autoridade monetária enfrenta é concluir o processo de redução da inflação nos Estados Unidos para a meta 2% ao ano. Apesar disso, na sua visão, o BC dos EUA tem as ferramentas necessárias para atingi-la.

"Temos as ferramentas, o Fed tem as ferramentas para atingir nossa meta de 2% ao longo do tempo", afirmou Powell.

De acordo com ele, a inflação nos EUA está muito relacionada a fatores domésticos, mas também é afetada por questões mundiais como os preços de commodities, petróleo e commodities agrícolas, que são precificados globalmente. "Certamente há uma economia global integrada e mercados globais e nós fazemos parte disso", disse.

Powell reafirmou que já há um movimento de desinflação no setor de bens, mas que ele também espera que essa seja uma realidade no segmento de serviços habitacionais e no restante do setor de serviços, que é mais da metade da economia dos EUA. "É a maior parte, obviamente, e ainda não estamos vendo desinflação", disse.

Na visão do presidente do BC dos EUA, a desinflação no setor de serviços norte-americano ainda "vai levar algum tempo". "E apenas precisamos ser pacientes e achamos que precisaremos manter as taxas em um nível restritivo. Pois, você sabe, por um período de tempo antes disso acontecer", alertou.

<b>Dívida</b>

O presidente do Federal Reserve disse que o nível de dívida do governo federal dos Estados Unidos é "insustentável". Na sua visão, mais cedo ou mais tarde isso terá de ser encaminhado.

"Mas eu diria que estávamos em um caminho fiscal insustentável no nível do governo federal. Esse tem sido o caso há algum tempo, e é algo com o qual teremos que lidar melhor mais cedo ou mais tarde ", afirmou Powell.

Ele disse ainda que o Fed tem uma "preciosa independência", mas que tem de agir com responsabilidade. "E o caminho para obtermos responsabilidade é ser o mais transparente possível", acrescentou, afirmando que essa é uma "prioridade muito alta" de sua gestão.

<b>Transparência</b>

O presidente do Federal Reserve disse a autoridade monetária não tenta esconder suas decisões do público e que o objetivo é ser transparente. "Queremos que o público entenda como estamos pensando. Se os mercados realmente entenderem como você está pensando e novos dados chegarem, os mercados irão para onde eles vão e isso meio que acontece organicamente", explicou.

Na sua visão, essa foi a tônica de 2022, quando o Fed promoveu o aperto monetário mais veloz em décadas. "Portanto, queremos ser transparentes. Não queremos surpreender os mercados com nossas decisões", disse Powell.

Sobre o possível vazamento de decisões do Fed, o presidente do BC dos EUA negou e disse que a autoridade leva isso "muito a sério". "Há um período de algumas horas após a reunião e até anunciarmos a decisão, mas na verdade anunciamos a decisão para a coletiva de imprensa", acrescentou.

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