A aversão a risco no exterior empurra o Ibovespa para baixo, enquanto a possibilidade de descarte na mudança da Lei das Estatais e o impasse da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição são vistos como gatilhos para algum alívio.
"Os últimos dias foram péssimos para o mercado doméstico e nem tanto para o exterior, em meio ao noticiário sobre a indicação de Aloizio Mercadante para o BNDES no novo governo e à mudança na lei das estatais na Câmara. As ações de estatais despencaram , relembra Marco Noenberg, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Só que hoje, acrescenta Noenberg, é crescente o temor de que ocorra uma recessão mundial, o que pesa nos ativos. A queda do petróleo de mais de 2,6% faz com que as ações da Petrobras devolvam parte da alta da véspera, em relação ao noticiário de descarta da lei das estatais, acrescenta.
"As questões internas impasse na lei das estatais e na PEC ajudam o Ibovespa a não cair tanto. Por ora, não há novidades que motivem alta do índice, e hoje ainda em vencimento de opções sobre ações, o que reforça volatilidade", diz o operador de renda variável da Manchester Investimentos. Às 10h56, o Ibovespa caía 0,42%, aos 103.305,29 pontos, após abertura aos 103.737,17 pontos. Petrobrás cedia 1,1% (PN) e 0,64% (ON).
Ao mesmo tempo, as negociações do governo para avançar a construção da sua equipe e para destravar a PEC podem provocar instabilidade ao longo do pregão, à medida que forem saindo informações sobre os assuntos. Além disso, o vencimento de opções sobre ações é outro fator com chance de levar à volatilidade do índice Bovespa, que caminha para fechar a segunda semana seguida de queda. Até o momento, acumula desvalorização de quase 4% no período.
"O grande tema do pregão de quarta-feira foi jogado a escanteio apenas um dia depois. Isso porque, após uma aprovação relâmpago na Câmara, não há previsão de que a mudança na Lei das Estatais entre na pauta do Senado por enquanto", descreve em nota Antonio Sanches, analista de investimentos da Rico.
Ontem, o Ibovespa fechou praticamente estável (-0,01%, aos 103.737,69 pontos), enquanto Wall Street amargou perdas na faixa de 2% a 3%, na esteira de renovado aumento nas expectativas de recessão global após altas de juros esta semana, começando pelos Estados Unidos.
Este temor hoje é reforçado após leituras fracas de dados de atividade da Europa a partir do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, do Reino Unido e da Alemanha. As bolsas europeias caem em torno de 1%, assim como os índices futuros de ações dos Estados Unidos, onde mais tarde será divulgado o PMI preliminar de dezembro e haverá participação presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, em evento.
"Portanto, um dia claramente de aversão a risco", define em comentário matinal o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.
Apesar do recuo de mais de 2% do petróleo no exterior, a sinalização do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de a votação da mudança na Lei das Estatais aprovada na Câmara pode ficar para o ano que vem tende a gerar algum alívio. Ontem, as ações do setor público reagiram em alta a essa possibilidade, dado que há o temor no mercado de que a sua aprovação abra espaço para ingerência política nessas empresas. Petrobras avançou mais de 2,5%.
Além disso, deve seguir no radar dos investidores as especulações de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva edite uma Medida Provisória (MP) para garantir o Bolsa Família de R$ 600, diante do impasse da PEC na Câmara dos Deputados.
Lula desembarcou ontem à noite em Brasília para tentar avançar na montagem do governo. A escalação dos ministros está congelada pela dificuldade em aprovar a PEC da Transição na Câmara e o compasso de espera do mundo político pelo julgamento do orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF). Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adiou a votação da PEC para terça-feira. No caso do STF, a votação será retomada na segunda.
"As leituras sobre a PEC tem oscilado conforme as informações do dia. Portanto, pode ter uma história mercados de mais volatilidade", estima Padovani.