Autoridades britânicas e francesas prometeram nesta quinta-feira, 25, agir para combater a imigração de pequenos barcos pelo Canal da Mancha, depois que 27 pessoas se afogaram ao largo de Dunquerque, na quarta-feira.
O presidente francês Emmanuel Macron pediu tentativas aceleradas por parte da França, Reino Unido, Bélgica, Holanda e Alemanha de encerrar as operações de tráfico de pessoas em toda a Europa após o desastre, com autoridades britânicas e francesas dizendo que algumas pessoas tentam chegar ao Reino Unido vindo à costa francesa por via rodoviária do exterior e, em algumas horas, cruzar o Canal da Mancha. Uma reunião com representantes dos cinco países deve ocorrer em Calais no domingo.
"Este encontro deve nos permitir definir as formas e meios de fortalecer a cooperação policial, judiciária e humanitária para ajudar na luta contra as redes de tráfico de pessoas que exploram o fluxo de migrantes", acrescentou em nota.
As autoridades francesas anunciaram que prenderam cinco pessoas sob suspeita de contrabando e homicídio involuntário agravado em conexão com as mortes na quarta-feira.
Em declarações à rádio RTL na quinta-feira de manhã, Gérald Darmanin, ministro do Interior da França, disse que a França deteve 1.500 traficantes de pessoas desde o início do ano. "O contrabandista de pessoas que prendemos ontem à noite, por exemplo, tinha um carro registrado na Alemanha e comprou seus barcos infláveis na Alemanha", acrescentou.
Darmanin acrescentou que, por alguns milhares de euros, os traficantes oferecem às pessoas o "El Dorado" na Inglaterra. O ministro deve discutir a melhor forma de reduzir o número de pessoas que fazem a perigosa travessia com Priti Patel, secretária do Interior do Reino Unido, ainda nesta quinta-feira.
Kevin Foster, ministro da imigração do Reino Unido, disse à BBC que é "vital que o Reino Unido e a França trabalharem juntos na resolução dos problemas" que levaram mais de 27.000 pessoas a cruzar o Canal em pequenos barcos este ano.
Ele acrescentou que o Reino Unido se ofereceu durante as negociações do ano passado sobre as relações pós-Brexit com a UE para assinar um acordo bilateral com a França para enviar de vlta os requerentes de asilo que tentam chegar ao Reino Unido, mas foram rejeitados. "Não podemos forçar nossos parceiros a chegarem a um acordo", disse ele.
<b>Patrulhamento conjunto</b>
Patel, por sua vez, ofereceu patrulhamento conjunto do Canal da Mancha com a França para evitar que novos naufrágios como o de quarta-feira, que matou 27 pessoas, entre elas três crianças e uma mulher grávida, voltem a acontecer.
Em uma declaração à Câmara dos Comuns na quinta à tarde, a ministra do Interior disse que já havia falado com Gérald Darmanin, o ministro do Interior da França, em um esforço para encontrar soluções para a crise em desenvolvimento.
"Acabei de falar de novo com meu homólogo francês, o ministro Darmanin, e mais uma vez estendi a mão e deixei minha oferta muito clara para a França em termos de cooperação conjunta da França e do Reino Unido, patrulhas conjuntas para evitar que essas viagens perigosas ocorram", disse Patel aos parlamentares.
"Eu me ofereci para trabalhar com a França para colocar oficiais e fazer absolutamente tudo o que for necessário para proteger a área, de modo que pessoas vulneráveis não arrisquem suas vidas entrando em barcos impróprios para navegar".
Autoridades francesas disseram que os 27 mortos na quarta-feira eram 17 homens, sete mulheres e três crianças. Os dois sobreviventes conhecidos, que estão se recuperando de uma grave hipotermia, são um iraquiano e um somali. O incidente é de longe a pior tragédia isolada no Canal desde que a migração de pequenos barcos se tornou um meio significativo de fazer a travessia da França para o Reino Unido no final de 2018.
Aumento de travessias e pedidos de asilo
Os números da imigração divulgados pelo Reino Unido na quinta-feira mostraram que as travessias do Canal da Mancha estão gerando um aumento nos pedidos de asilo. Entre julho e setembro houve 15.104 pedidos, 60% acima do mesmo trimestre em 2020. No ano até setembro, houve 37.562 pedidos de asilo – 18% a mais em relação ao período até setembro de 2020.
O aumento foi atribuído à chegada de pessoas em pequenos barcos, quase todos pediram asilo, e à reabertura de viagens internacionais.
Mas, mesmo com o aumento, o número de pedidos de asilo recebidos pelo Reino Unido continua bem abaixo de outros países europeus. No ano, até junho, a Alemanha recebeu 113.625 pedidos, e a França 87.180.
<b>Crise migratória</b>
O plano de Priti Patel é conhecido há algum tempo: impedir que os pequenos barcos que atravessam o Canal da Mancha cheios de imigrantes cheguem ao Reino Unido, Mas especialistas e ativistas de direitos humanos afirmam que o plano do governo britânico enfrenta ao desafios legais por infringir leis marítimas e regulamentações humanitárias.
O jornal britânico The Guardian revelou nesta semana que advogados do governo britânico advertiram Patel que ela provavelmente perderá na Justiça qualquer contestação legal contra sua política de repelir os barcos.
A primeira contestação legal foi feita pelo grupo Care4Calais, que alega que a política de reter as embarcações precisa ser tornada pública e passar por um escrutínio do parlamento britânico antes de ser adotada. Além disso, argumenta que a política de obrigar o retorno das embarcações não tem base legal, autoriza conduta ilegal por funcionários do Reino Unido, e é proibida pela convenção de refugiados.
A segunda contestação legal é da ONG da Channel Rescue, uma organização de direitos humanos que monitora a situação dos refugiados que cruzam o Canal em pequenas embarcações. O grupo alega alegadas que o plano do governo britânico viola leis do direito marítimo – a exigência da convenção da ONU sobre o direito do mar estabelece que navios forneçam assistência a quem está em perigo no mar.
Fontes governamentais informaram a alguns meios de comunicação em setembro que uma equipe da Força de Fronteira vinha treinando há meses, preparando-se para o início da operação. Dias depois, os voluntários do Resgate do Canal testemunharam oficiais da Força de Fronteira em jet skis praticando manobras em volta de botes na costa de Kingsdown, em Kent.
Kim Bryan, do Channel Rescue, disse que seus voluntários testemunharam uma prática dirigida por oficiais da Força de Fronteira usando jet skis para cercar um bote de ambos os lados e empurrá-lo por trás. "Acreditamos que isso é uma ameaça à vida e é ilegal", disse Bryan. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)