Em depoimento ao Parlamento britânico, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, garantiu que, segundo o esboço da declaração sobre a relação futura com a União Europeia após o Brexit e o acordo de retirada, Londres poderá negociar acordos comerciais com outros países durante o período de transição e colocá-los em vigor imediatamente após a consumação do divórcio.
Sobre os pontos da relação futura proposta apontados como os principais obstáculos ao avanço do trato nas instâncias do Conselho Europeu, no próximo domingo e, eventualmente, do Parlamento britânico, May prometeu que “a soberania de Gibraltar será preservada” após a saída britânica e que Londres não trocará concessões na sua política de pesca por concessões de Bruxelas no comércio.
Gibraltar, um território britânico no extremo sul da Península Ibérica, se tornou um impasse com a Espanha, que pleiteia seguir negociando bilateralmente como Reino Unido em torno do status da localidade. O esboço da declaração política sobre a relação futura divulgada hoje sequer menciona Gibraltar.
Já o trecho do documento em torno do acesso ao território marítimo de cada uma das partes e de cotas para o comércio de peixes foi formulado vagamente, sob risco de dissuadir membros escoceses do Parlamento britânico de votar a favor do Brexit de Theresa May.
Aos legisladores, a premiê afirmou também que os pescadores britânicos conseguirão “uma fatia mais justa” dos peixes em suas águas. “Se quisermos acesso a águas europeias, teremos de negociar anualmente o acordo de acesso a águas entre a UE e o Reino Unido. Hoje, não podemos fazer isso como um Estado costeiro independente. No futuro, poderemos fazer isso como um Estado costeiro independente, como a Noruega ou a Islândia.”
Quanto ao sempre presente imbróglio em torno da fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, May disse que, se Londres e Bruxelas se aproximarem do dia do divórcio sem um acordo comercial que evite estruturas físicas na divisa, o impasse poderia ser resolvido por “arranjos alternativos”, como o uso de tecnologia, ou por uma extensão do período de transição.
Ou seja, segundo a conservadora, o acionamento do anteparo temporário (backstop) para garantir a porosidade na fronteira irlandesa, segundo o qual o Reino Unido ficaria inteiramente no mesmo território aduaneiro da União Europeia, não seria a única alternativa a uma ruptura drástica.
May reiterou: “Nas próximas 70 horas, farei tudo para entregar o Brexit ao povo britânico.”