O relatório médico encaminhado à Justiça pela Advocacia Geral da União (AGU) afirmando que o presidente Jair Bolsonaro teve resultado negativo em dois exames para detecção de covid-19 é assinado por dois médicos funcionários da Presidência da República: um ortopedista e um urologista.
O documento apresentado foi emitido em 18 de março de 2020 e é assinado por Marcelo Zeitoune, assistente médico da Presidência, e Guilherme Guimarães Wimmer, coordenador de saúde da Presidência da República. No mesmo dia, Wimmer teve reunião com Célio Faria Junior, chefe da assessoria especial do presidente e braço direito de Bolsonaro.
O jornal O Estado de S. Paulo telefonou para Zeitoune, que disse que não poderia dar mais detalhes sobre os exames do presidente. "Ordens superiores", afirmou. Ele disse que sua especialidade é ortopedia e que faz parte da equipe de médicos da Presidência.
Zeitoune acompanha a comitiva presidencial em viagens e foi para a Arábia Saudita no fim de outubro do ano passado, período em que Bolsonaro visitou o país.
Na segunda-feira, 27, o jornal O Estado de S. Paulo garantiu na Justiça Federal o direito de obter "os laudos de todos os exames" de novo coronavírus feitos pelo presidente da República. O presidente já realizou pelo menos dois testes para saber se foi contaminado pela doença – em 12 e 17 de março – e divulgou que os resultados foram negativos. Ele tem se recusado, no entanto, a apresentar cópia dos exames.
Em vez de enviar os laudos de todos os exames, como determinou a Justiça após o pedido da reportagem, a Advocacia-Geral da União encaminhou um relatório médico de 18 de março no qual atesta que Bolsonaro se encontra "assintomático" e teve resultado negativo para os testes do novo coronavírus realizados no mês passado. A juíza não aceitou o relatório e deu 48 horas para que os exames sejam entregues.
Nesta quinta-feira, 30, em entrevista à Rádio Guaíba, o presidente disse que pode já ter pegado o coronavírus. "Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, talvez, e nem senti", afirmou.
Em março, o presidente já havia declarado que talvez tivesse sido identificado "lá atrás" sem saber e que poderia ter o anticorpo. Na ocasião, ele já tinha feito os dois exames e declarou que, por recomendação médica, "talvez" fizesse mais um.