Variedades

Relato seco, documentado. E a emoção do povo na rua

Na entrevista, o diretor Sergio Rezende expõe a diferença entre a trama e o drama de O Paciente, seu longa sobre a agonia e morte de Tancredo Neves, que sonhou ser presidente do Brasil, construiu sua vitória no Colégio Eleitoral indireto e, mesmo eleito, não tomou posse. A trama é essa incrível sucessão de erros médicos que levou ao desenlace fatal. O drama é humano, do homem que, inspirado no exemplo de Tiradentes, “aquele herói enlouquecido de liberdade”, tinha um projeto para o Brasil, mas não conseguiu concretizá-lo.

O Paciente é um filme bem feito – muito bem feito. Chega a lembrar um pouco o cinema documentado do italiano Francesco Rosi. Com base no livro de Luís Mir, Rezende fez um filme baseado em prontuários médicos. Seco, duro. A ficção nasce dos diálogos que dão sustentação a cenas que a história registra – os médicos reuniram-se, a família decidiu. Tancredo Neves está sozinho com a mulher, Risoleta Neves, no quarto de hospital. Não houve testemunhas desses diálogos, mas o cinema os imagina. Tudo muito austero.

Boa parte dos valores de O Paciente são de produção, a cargo de Mariza Leão, mulher de Rezende, na sua Morena Filmes. Ester Góes pode não ser parecida com Risoleta, mas o figurino, o penteado, tudo é rigorosamente exato e o restante fica por conta do extraordinário talento da atriz. O drama também é de Antônio Britto/Emílio Dantas, o assessor de imprensa que tenta manter a credibilidade nessa sucessão de erros, mentiras e desmentidos. É uma história absurda – como foi possível que tudo isso ocorresse? O Brasil é um país surreal? O Tancredo negociador é uma quimera. O povo nas ruas é realidade. Milton canta Coração de Estudante. A emoção se impõe. Algumas coisa na tela está acabando, mas o sonho continua.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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