A baiana Mariene de Castro abriu o “Show de verão” da Mangueira, na terça, 26, à noite, com Mel (Caetano Veloso), A Dona do Raio e do Vento (Paulo César Pinheiro) e Oração pra Mãe Menininha (Dorival Caymmi), saudando a sua madrinha de santo. O baluarte Tantinho da Mangueira emendou com Maria Bethânia (Capiba) e Mora na Filosofia (Monsueto e Arnaldo Passos), para depois entrar Martnália, a quem couberam Baila Comigo (Rita Lee e Roberto de Carvalho), Último Desejo (Noel Rosa) e Sonho Meu (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho). A filha de Martinho da Vila fez graça ao contar: “Vocês sabiam que quando a Bethânia tinha 20 aninhos, ela gravou um disco incrível cantando Noel Rosa? Olha a Vila Isabel!”.
Era o início de uma noite calcada na diversidade do repertório de Maria Bethânia, de sambas-canção e sacudidos, baladas, canções de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gonzaguinha, Roberto Carlos, interpretadas por nomes ligados diretamente ou não à agremiação – no primeiro caso, Chico Buarque, Tantinho, Alcione e Rosemary; no segundo, Mariene, Martnália, Pretinho da Serrinha, Ângela Rô Rô, Sombrinha e a portuguesa Carminho. Todos cantaram de graça. Dois foram ovacionados: Chico, por ser Chico, e Carminho, por sua versão à flor da pele de Sangrando (Gonzaguinha), que compartilhou com Alcione.
Uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio, fundada em 1928, a Mangueira realiza esse show há 14 edições, para levantar recursos para seu desfile (estima-se que tenham entrado R$ 250 mil nos cofres verde-e-rosa). Este ano, deixou de lado as exaltações à própria história e se voltou à de Bethânia, a homenageada do enredo A Menina dos Olhos de Oyá, que trata de sua religiosidade e trajetória artística de 50 anos.
A grande estrela desses shows sempre foi o mangueirense Chico Buarque. O compositor é presença certa desde a primeira edição, em 1998, ano em que foi ele o enredo da escola, sagrada com ele campeã do carnaval. Desta vez, Chico, chamado ao palco por Alcione como “guri da Mangueira”, “abriu” para Bethânia. Por duas músicas, Anos Dourados e Olhos nos Olhos, ele penou com problemas técnicos, que fizeram sua voz chegar muito baixa ao público. Sua expressão era de agonia.
Quando Bethânia entrou, tratou de parar tudo para que a falha fosse corrigida: “Eu não canto sem ouvir Chico nem morta!”. Era o primeiro encontro no palco desde 2001, quando ela fez 35 anos de carreira no Canecão e ele foi uma das participações especiais.
A exigente Bethânia não se deixou abater. Eles reeditaram o dueto de Noite dos Mascarados, que haviam registrado no LP Chico Buarque e Maria Bethânia, 40 anos atrás. Depois Chico saiu e ela cantou Carcará (João do Valle e José Cândido), Vento de Lá (Roque Ferreira), Reconvexo (Caetano) e O Que É, o Que É (Gonzaguinha), para tudo terminar no samba-enredo da Mangueira (Alemão do cavaco/Almyr/Cadu/Lacyr da Mangueira/Paulinho Bandolim/Renan Brandão). Bethânia puxou o refrão – “Quem me chamou… Mangueira/ Chegou a hora, não dá mais pra segurar/ Quem me chamou… chamou pra sambar/ Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá” – e convidou ao palco o intérprete mangueirense Ciganerey, para que ele continuasse a letra. Com ele, voltou o elenco, para o grand finale.
A escola havia cogitado uma entrevista coletiva com Chico e Bethânia pós-show, mas ele não participou. Bethânia fez questão de declarar-se tanto para Chico quanto para a Mangueira: “É grande demais a emoção (de ser homenageada), evito pensar de tão grande que é. Penso que é uma homenagem ao meu orixá, isso me dá um distanciamento, alguma paz”, disse. Ela estava frustrada pelo fato de a apresentação com Chico não ter sido a apoteose que se esperava. “À tarde, no ensaio, estava uma delícia”, lamentou. “É muito emocionante voltar a cantar com Chico. Ele tem uma graça, uns truques de rapaz, um charme que não acaba. Ele continua rindo da gente, de tudo que a gente faz. A gente é feliz, brinca que namora, faz anarquia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.