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Reportagem relata caos no atendimento médico no HMU em Guarulhos

Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo desta quarta-feira ilustra bem como é precário o atendimento médico em Guarulhos, no principal hospital municipal da cidade, o HMU. Nesta terça-feira, havia um médico para 30 pacientes na fila

Leia a íntegra da reportagem:  

Uma das 47 cidades do Estado de São Paulo que receberão profissionais brasileiros e estrangeiros, do programa Mais Médicos do governo, anunciado nesta segunda-feira, 8 , pela presidente Dilma Rousseff, Guarulhos, na Grande São Paulo, exemplifica a necessidade de mais médicos voltados para o atendimento da população.


Nesta terça-feira, na recepção do Hospital Municipal de Urgências (HMU), um dos principais prontos-socorros da cidade, 30 pacientes aguardavam na fila, algumas estavam mais de quatro horas, para atendimentos básicos. Nas salas de atendimento da recepção, apenas um médico se desdobrava para dar conta da demanda.

"O médico fica na sala, atende três pessoas em 15 minutos, atende as três, aí sai. Ou porque alguém chamou na emergência, ou porque precisa acompanhar uma internação, e a gente fica aqui, sentado, só esperando", disse o auxiliar de almoxarifado Daniel Pereira Bispo, de 38 anos.

Bispo tinha procurado o hospital porque estava com tosse havia dois dias. O mesmo sintoma foi relatado por outros dois pacientes com quem a reportagem conversou. Apenas os casos realmente graves, envolvendo febre ou, por exemplo, um idoso que não conseguia urinar pelo terceiro dia, furavam a fila – após passar por uma triagem, tinham o caso diagnosticado como "mais urgente" e, por isso, prioridade no atendimento.

"Eu já tinha ido ao posto de saúde perto da minha casa. Mas, lá, marcaram a consulta, com um clínico-geral, para setembro. Mas minha tosse não melhorou, então precisei vir para cá", relatou a dona de casa Maria Assunção Costa Santos, de 58 anos, que também esperava havia três horas para ser atendida na recepção do HMU.

Por causa da demora, tinha paciente já cogitando ir embora sem ser atendido. "Eu já estava tomando remédio, mas a tosse e a garganta raspando não melhoram. Por isso, vim para cá. Vim com meu filho mais velho, mas o menor está sozinho. Por isso, acho que vou ter de ir embora", afirmou a manicure Tania Silva Souza Damaceno, de 27 anos.

Quadro cheio

O atendimento prestado por um único médico não foi uma situação decorrente da ausência de profissionais escalados para trabalhar. A reportagem apurou que o quadro de médicos daquele hospital estava completo nesta terça-feira: quatro profissionais. Mas ocorrências de emergência – que, na verdade, fazem parte da rotina de um hospital de urgências – fizeram com que nem todos pudessem atender a população.

Um deles teve de acompanhar a remoção de um paciente em estado grave para outro hospital. Outro foi deslocado para o setor de urgências, para acompanhar um caso grave que chegou ao hospital por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O terceiro, que havia entrado na parte da manhã, teve de sair, por volta das 17h30, para almoçar – o que ainda não havia conseguido fazer. Sobrou para o quarto médico dar conta da demanda enquanto os colegas não retornavam. A reportagem tentou contato com a Secretaria de Comunicação da prefeitura de Guarulhos para comentar o caso, mas nesta terça, no feriado do Dia da Revolução Constitucionalista de 1932, ninguém atendeu os telefonemas feitos pela reportagem.

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