Pelo menos três pessoas foram mortas a tiros na repressão aos protestos no Sudão neste sábado, 30. Os opositores ao golpe de Estado militar no país iniciaram uma nova demonstração de força contra o general Abdel Fattah al-Burhan, determinados a recolocar o país no caminho democrático, apesar da repressão mortal.
De acordo com uma união de médicos, ao menos três pessoas foram baleadas e mortas em Omdurman, cidade gêmea da capital, Cartum. Nela, um grupo de manifestantes iniciou uma marcha enquanto forças de segurança patrulhavam e bloqueavam as pontes que conectam a cidade aos subúrbios, revistando pedestres e veículos.
A resposta do Exército está sendo observada por todo o mundo, afirmou uma autoridade dos Estados Unidos. "Será um verdadeiro teste das intenções dos militares", disse ele, alertando contra um surto de violência. A internet no país foi cortada pelos militares.
Apesar dos 12 mortos e mais de 170 feridos pela repressão militar desde o golpe de segunda-feira, o risco de um novo banho de sangue neste país dizimado por conflitos não abala a determinação dos manifestantes, disse o militante pró-democracia Tahani Abbas, à agência <i>France Presse</i>. "Os militares não vão nos governar."
Em um país comandado quase sem interrupção pelos militares em seus 65 anos de independência, a rua decidiu enfrentar o general Burhan que, na segunda-feira, dissolveu as instituições do governo de transição e prendeu a maioria dos líderes civis.
O principal lema dos opositores é: "não há como voltar atrás". Em 2019, uma mobilização que durou seis meses e deixou mais de 250 mortos derrubou o ditador Omar al-Bashir, um general que chegou ao poder com outro golpe há 30 anos.
Desde segunda-feira, muitos sudaneses declararam "desobediência civil" e estão se protegendo em barricadas.
Eles enfrentam balas reais ou de borracha e gás lacrimogêneo disparado por forças de segurança que mataram pelo menos nove, provavelmente mais, de acordo com uma associação médica. O manifestante Abbas diz que sua "única arma é o pacifismo". "Não temos mais medo", garante.
Jibril Ibrahim, ministro das Finanças que havia apoiado um protesto pró-Exército antes do golpe, alertou que "destruir propriedade pública não é uma manifestação pacífica", em uma mensagem no Twitter, sugerindo que as forças da ordem podem atirar novamente contra os manifestantes.
"Os golpistas tentam realizar atos de sabotagem para encontrar um pretexto para desencadear a violência", acusou, por sua vez, o porta-voz do governo deposto no Facebook.
Mas desta vez "os líderes militares não devem se enganar: o mundo está olhando e não vai tolerar mais sangue", advertiu a Anistia Internacional.
Neste sábado, o emissário britânico Robert Fairweather pediu às forças de segurança sudanesas "respeito à liberdade e ao direito de expressão". O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou "moderação e a não causar mais vítimas".
<b>Sanções internacionais</b>
O golpe enterrou as esperanças de eleições livres no fim de 2023 e empurrou o país para o desconhecido. Quase todos os líderes civis, que faziam parte das instituições de transição junto com os militares e que foram desmanteladas, ainda estão detidos ou em prisão domiciliar.
Muitas instituições públicas anunciaram que se juntariam à desobediência civil, que transformou Cartum em uma cidade morta por cinco dias.
Nove dias atrás, dezenas de milhares de sudaneses saíram em passeata gritando "fora Burhan", uma manifestação que provavelmente precipitou o movimento do Exército.
Os militantes querem encher ainda mais as ruas desta vez, embora muitos deles tenham sido presos. Especialistas observam que, graças à experiência de 2019, o movimento pró-democracia está mais bem organizado.
Além disso, contam com o apoio de uma comunidade internacional que multiplicou as sanções contra os generais. Os EUA e o Banco Mundial suspenderam sua ajuda, vital para um país atolado em inflação galopante e pobreza endêmica. A União Africana suspendeu o Sudão e o Conselho de Segurança da ONU exige o retorno dos civis ao poder. <i>COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS</i>