As reservas em moeda estrangeira da China recuaram em maio, sob pressão por causa da valorização do dólar. As reservas caíram após dois meses de alta, o que voltou a gerar temores sobre a vulnerabilidade da economia do país com a saída de dinheiro.
As reservas recuaram no mês passado US$ 27,93 bilhões, para US$ 3,192 trilhões, o que reverteu o ganho somado de US$ 17 bilhões nas reservas nos meses de março e abril, segundo dados desta terça-feira do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês). Conforme as reservas caem, a crescente dívida chinesa e a desaceleração de seu crescimento elevam o risco de fuga de capital.
“As pressões de fuga de capital devem ter voltado em maio, junto com a depreciação de 1,6% do yuan ante o dólar, ainda que a escala da saída deva ter sido limitada pelo aperto em andamento dos controles de capital”, afirmou o economista Ning Zhang, do UBS.
Estima-se que US$ 25 bilhões tenham deixado a China em abril, segundo o Instituto de Finanças Internacionais, o 25º mês consecutivo de saída líquida de capital do país. Volumes maiores, estimados em cerca de US$ 32 bilhões pela Capital Economics, devem sair do país em maio.
A breve retomada da força do dólar também mostra o quanto a moeda chinesa ainda está ligada à dos EUA, apesar das medidas de Pequim para reduzir esse vínculo. Os momentos de dólar forte representam um equilíbrio difícil para as autoridades chinesas, que precisam dar crédito suficiente para impulsionar a economia, mas também evitar o enfraquecimento da moeda para um patamar no qual o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) tenha de gastar muito para defender o yuan.
Pequim teve, porém, algum alívio, diante do relatório de empregos mais fraco em maio nos EUA, que levou a uma redução nas expectativas por uma alta de juros neste mês pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano. Economistas dizem que uma elevação em julho é possível, mas improvável.
Os níveis de saída de capital tornaram-se mais gerenciáveis que no fim do ano passado, quando as reservas caíram num recorde de 107,9 bilhões em dezembro, com investidores que trocavam o yuan por ativos denominados em dólar. Em 2015, a saída de capital totalizou cerca de US$ 680 bilhões.
Essas saídas de capital, agora em seu terceiro ano consecutivo, tornaram-se um sintoma crônico e altamente visível das condições econômicas mais fracas do país em quase três décadas. Grandes doses de crédito não têm conseguido impulsionar os indicadores econômicos mais amplos da China, entre eles a produção industrial e as vendas no varejo.
Uma grande injeção de crédito neste ano levou a medida mais ampla de oferta monetária da China, a M2, a subir 14% em janeiro, o que superou a meta do próprio governo para o ano e significou a maior alta do indicador desde janeiro de 2014. A ampla liquidez manteve os níveis de M2 altos nos meses subsequentes.
A comparação entre a oferta ampla de capital e as reservas estrangeiras fornecem pistas sobre a exposição da economia ao risco de fuga de capital. Quanto mais baixa a relação entre reservas e oferta M2, maior a probabilidade de uma fuga de capital. No caso da China, a relação entre as reservas e a oferta M2 caiu para 14,6% em abril, de 19,2% um ano atrás e 22,5% há dois anos. Isso mostra, portanto, um aumento do risco de fuga de capital.
Empresas e investidores disseram que os reguladores chineses tomaram medidas no ano passado para fortalecer o controle sobre o dinheiro que deixa o país, por exemplo ao limitar quanto os detentores de cartões chineses podem sacar fora do país, além de dificultar a compra de apólices de seguro do exterior. O governo tem dito, porém, que não imporá novos controles. Pequim também tem tentado diversificar mais seus ativos de reserva, para diminuir a dependência do dólar. O banco central disse no mês passado que suas reservas de ouro em abril aumentaram 1,7%, na comparação anual. Economistas estimam que cerca de 50% das reservas chinesas em moeda estrangeira seja de dólares e boa parte do restante de ienes e euros. Fonte: Dow Jones Newswires.