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Residentes do Hospital Universitário Pedro Ernesto protestam no Rio

Residentes do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), puseram narizes de palhaço nesta quarta-feira para expor a crise da instituição na porta do Palácio Guanabara, sede do governo fluminense. Em parte sem trabalhar por falta de dinheiro para a passagem, promoveram uma manifestação de protesto contra o atraso no pagamento de suas bolsas. Também denunciaram as condições em que trabalham. Um representante do Estado recebeu manifestantes. Apenas se comprometeu a encaminhar suas reivindicações ao novo secretário de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca. Não falou em solução.

“Falta luz toda semana, há insumos em pouca quantidade, existem enfermarias em que a gente tem de fazer reaproveitamento de seringas”, disse a residente de enfermagem Luciana Costa. “As meninas da nutrição falaram que sábado passado tiveram de servir angu com carne moída a pacientes que não podem consumir esse tipo de alimentação por dificuldade de deglutição. Falta ar condicionado nos setores, tudo isso a gente colocou em pauta.”

A descrição da residente mostra parte do quadro de crise que se desenhou mais claramente na UERJ a partir do fim do ano passado. Foi quando funcionários terceirizados, como faxineiros e ascensoristas, não receberam seus salários e fizeram uma greve. Os residentes já percebiam problemas no seu pagamento. Mas os atrasos eram de poucos dias e, sempre que aconteciam, eram comunicados com antecedência e com a nova data para o pagamento. Em janeiro, porém, as bolsas de residência, de pouco mais de R$ 2,9 mil, não foram pagas no dia 10. Agora, não há previsão de nova data para que a dívida seja quitada.

O atraso também atinge os bolsistas de graduação, mestrado e doutorado. Uma assembleia, marcada para as 18h de hoje, vai discutir a situação. No caso do Pedro Ernesto, o problema é problema se agrava, porque a unidade se tornou muito dependente dos residentes. “Servidores mesmo tem poucos”, disse Luciana, após o encontro da comissão com o chefe de gabinete da Casa Civil, Claudio Pieruccetti “Na enfermagem, a gente tem um buraco de 500 enfermeiros que já deveriam ter entrado, do concurso de 2012. E a gente acaba assumindo setores em que está se especializando. Isso é uma coisa que não cabe. Em uma residência, você tem de ter o seu preceptor ou uma pessoa que seja responsável pelo setor para poder lhe ensinar, ajudar a lidar com a especialidade que escolheu. E a gente entra e assume o setor como se fosse funcionário da Casa.”

O presidente da Associação dos Residentes do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Demetrius de Luna Lopes, contou que, na semana passada, os residentes aprovaram uma paralisação em assembleia. Entre os médicos, a adesão é de 30%, porque os demais, em sua maioria, são de áreas cirúrgicas, que seriam muito prejudicadas se os todos parassem. Além disso, quem é da residência médica pode exercer outras atividades remuneradas, diferentemente das demais áreas. Nelas, o regime é de dedicação exclusiva.
“No fim do ano (de 2014) saíram (do hospital) bolsistas de outras áreas. Havia muitos técnicos de enfermagem que eram CLT. O Ministério Público obrigou a universidade a chamar o banco de concursos. As pessoas saíram, mas os novos enfermeiros não foram chamados.”

A crise também atinge os professores. Um dos vice-presidentes da Associação de Docentes da UERJ, Fabio Iorio, disse ao Estado que a categoria está sem reposição salarial há 12 anos. Os salários sobem apenas por progressão funcional, afirmou. A Dedicação Exclusiva muitas vezes, segundo ele, é concedida, mas não paga. E ao se aposentar os professores não a recebem mais. Na ativa, são 2279 docentes efetivos e 478 substitutos, contratados pelo regime de CLT. O MP exigiu que fossem substituídos por profissionais concursados, mas os concursos são poucos, disse o professor. Ele também se queixou das más condições de ensino e pesquisa.

“Quando (um laboratório) funciona, é um projeto específico de um professor, que consegue dinheiro com alguma instituição de fomento”, disse. O governo estadual informou apenas que um grupo de manifestantes foi recebido “pelo chefe de gabinete da Casa Civil, Claudio Pieruccetti, que se comprometeu a acompanhar a situação junto a Secretaria de Ciência e Tecnologia, que faz a gestão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)”. Procuradas, a UERJ e a secretaria não responderam à reportagem até o início da noite de hoje.

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