As tentativas de setores conservadores da sociedade brasileira de fazer com que a população esqueça a história recente do país tiveram um forte abalo na semana passada, com a publicação do livro Memórias de Uma Guerra Suja, com depoimento do ex-repressor Cláudio Antônio Guerra aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros. Ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Espírito Santo, Guerra confessa a participação em crimes cometidos pela ditadura militar e dá detalhes do desaparecimento de vários prisioneiros políticos.
Ele diz que os corpos de alguns militantes de esquerda foram incinerados na usina de açúcar Cambahyba, em Campos, no Rio de Janeiro. Entre eles estavam David Capistrano; João Massena Mello; Ana Rosa Kucinski e seu marido, Wilson Silva; João Batista; Joaquim Pires Cerveira; José Roman; Luiz Ignácio Maranhão Filho; Fernando Augusto e Eduardo Collier Filho.
O delegado, que hoje se diz arrependido, afirma também que participou de atentados preparados por agentes do “porão” do regime, inconformados com o crescimento da oposição. Entre eles, o atentado ao Riocentro (1981) e ao jornal O Estado de S. Paulo (1983) e o misterioso assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten (1982). Guerra diz que o delegado Sérgio Paranhos Fleury, o todo-poderoso chefão do DOPS paulista, foi assassinado por seus pares num processo de “queima de arquivo”.
Não sabemos se todos os fatos narrados pelo ex-repressor são verdadeiros. Mas isso só reforça a importância da instalação da Comissão da Verdade, proposta pela presidenta Dilma Rousseff e aprovada pelo Congresso Nacional – para investigar as circunstâncias de violação de direitos humanos cometidos principalmente durante a ditadura militar (1964-1985). Os familiares e toda a sociedade brasileira têm o direito inalienável de saber como morreram os presos políticos, já que eles estavam sob a custódia do Estado, e o que foi feito de seus corpos.
Um país democrático não pode fazer tabula rasa de sua história. Principalmente porque aqueles que não aprendem com o passado estão condenados a repeti-lo. A Comissão da Verdade é o primeiro passo no sentido de que nunca mais personagens sinistros como Sérgio Fleury, Carlos Alberto Brilhante Ustra, Sebastião Curió e Cláudio Antonio Guerra, entre outros, possam ser protagonistas da nossa história.
José Luiz Guimarães
Vereador (PT) e líder do Governo na Câmara Municipal
Escreve às quintas-feiras