A alta de 1,2% registrada pelo varejo em fevereiro ante janeiro foi um resultado positivo, mas ainda não reverte a tendência negativa no setor, segundo a gerente na Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes.
“É um resultado importante, positivo, mas ainda não muda no curto prazo o movimento no comércio varejista”, afirmou Isabella. A média móvel trimestral do varejo, que indica tendência, permanece em território negativo há três meses. O resultado de fevereiro ficou em 1,0%.
O varejo opera 9,8% abaixo do ponto mais alto da pesquisa, que foi em novembro de 2014. Segundo Isabella, as vendas estão em patamar semelhante ao de janeiro de 2012.
“Em relação a fevereiro de 2015, a massa real de salários reduz ainda mais, o número de trabalhadores com carteira assinada diminui em 4,1%, e a inflação segue em trajetória de aceleração. Esses são fatores que inibem o consumo das famílias”, lembrou a pesquisadora.
Base baixa de comparação
As atividades do comércio varejista, que tiveram elevação nas vendas em fevereiro ante janeiro, vinham de uma base de comparação baixa, após meses de quedas consecutivas, ponderou Isabella Nunes. “Há três ou quatro meses elas estão mostrando quedas consecutivas. Então é natural que, depois de muito tempo consecutivo de queda, você comece a consumir”, justificou Isabella.
Segundo a pesquisadora, os fatores que inibem o consumo das famílias persistem na conjuntura atual. O número de trabalhadores com carteira assinada recuou 4,1% no período de um ano; a redução de massa salarial habitual diminuiu 11,5% em relação a fevereiro de 2015; a taxa de juros do crédito a pessoas físicas aumentou de 32,9% ao ano em fevereiro de 2015 para 39,9% ao ano em fevereiro de 2016; e a inflação oficial medida pelo IPCA estava em 10,36% nos 12 meses encerrados em fevereiro.
“A inflação continua acelerando até fevereiro. Ela só cedeu em março. Então ainda é um patamar elevado. E a massa salarial está caindo”, disse Isabella.
Na passagem de janeiro para fevereiro, a atividade de supermercados cresceu 0,8%, após três meses de quedas. O segmento de móveis e eletrodomésticos avançou 5%, depois de dois meses de recuos significativos. Os combustíveis tiveram aumento de 0,6%, mas não recuperaram a perda registrada no mês anterior (-2,5%).
Já os automóveis mostraram avanço significativo em janeiro, de 3,8%, após queda de 2,2% em janeiro. “Veículo é um segmento muito concentrado, tem mais capacidade de fazer promoção”, explicou a gerente do IBGE.
Interanual
A queda de 4,2% nas vendas em fevereiro ante fevereiro de 2015 foi o pior resultado para o mês registrado pela série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, com início em 2002, informou o IBGE. Em janeiro, o varejo tinha encolhido 10,2% ante janeiro de 2015.
“Fevereiro reduz 6,4 ponto porcentual a queda em relação a janeiro. Mas é pior do que em fevereiro do ano passado, porque tem uma conjuntura que avançou negativamente em relação a 2015. O mercado de trabalho está mais negativo, a inflação está mais alta, a taxa de desemprego aumentou”, explicou Isabella Nunes.
O resultado do varejo em fevereiro foi a 11ª taxa negativa consecutiva na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A única atividade a registrar crescimento foi a de artigos farmacêuticos (6,2%). Todas as demais tiveram redução nas vendas, embora em menor magnitude do que o registrado no mês anterior (com exceção de livros e jornais, que aprofundou a queda no último mês).
Outros recuos nas vendas foram registrados pelos segmentos de Móveis e eletrodomésticos (-10,9%); Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,4%); Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,4%); Tecidos, vestuário e calçados (-10,8%); Combustíveis e lubrificantes (-4,1%); Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-17,3%); e Livros, jornais, revistas e papelaria (-16,3%).
No varejo ampliado, a queda de 5,6% em fevereiro ante fevereiro de 2015 foi o 21º resultado negativo consecutivo, influenciado por retrações em Veículos, motos, partes e peças (-6,6%) e Material de construção (-11,1%).