Resultados preliminares de exames em dois fetos com microcefalia revelam a infecção por zika vírus, apurou o jornal O Estado de S. Paulo. Os testes foram feitos a partir da análise de líquido amniótico de dois bebês de Campina Grande, na Paraíba.
O material foi coletado pela especialista em Medicina Fetal Adriana Melo, que vem acompanhando desde o início do surto de casos de pacientes com a malformação. A análise foi feita no Laboratório da Fiocruz, do Rio. A confirmação é aguardada para esta terça-feira, 17, quando o Ministério da Saúde deve apresentar números atualizados do surto.
O resultado é o primeiro a indicar a relação entre o aumento de casos da microcefalia e a infecção da gestante pelo vírus. Até a sexta-feira, 13, haviam sido contabilizados pelo menos 250 casos de bebês com microcefalia nos Estados de Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.
A reportagem apurou que o Ministério da Saúde admitiu nesta terça a existência do exame e comunicou o resultado a um grupo interno, encarregado de acompanhar emergências sanitárias. Na segunda-feira, 16, questionada sobre a análise da Fiocruz, a pasta não confirmou a informação. Afirmou em nota não haver análises finalizadas e que qualquer conclusão neste momento é precipitada. “Todas as hipóteses serão minuciosamente avaliadas para não se incorrer em erro”, informou a pasta.
Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o resultado é um forte indicativo de que a causa das microcefalias é a infecção pelo vírus, transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti.
“O isolamento viral no líquido amniótico, se de fato constatado, confirma a associação entre zika e microcefalia”, afirmou o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Brito. “É um achado inusitado que vai exigir um enorme empenho para reforçar o combate ao vetor no próximo verão”, afirmou uma fonte ouvida pelo jornal O Estado de S. Paulo, sob condição de anonimato.
O aumento de microcefalia nos Estados do Nordeste começou a ser notado em agosto. Em Pernambuco, o número de nascimentos contabilizados este ano é 15 vezes maior do que a média anual registrada no período 2010-2014, de nove casos. Exames preliminares feitos nas gestantes e nos bebês não indicou, até agora, uma forte relação entre a microcefalia e infecções que tradicionalmente provocam esse tipo de malformação, como toxoplasmose, citomegalovírus.
Pesquisadores começaram a levantar a hipótese de relação com o zika vírus diante dos relatos das gestantes. Boa parte delas informou ter apresentado febre baixa, coceiras e vermelhidão (sintomas clássicos de zika) nos primeiros meses de gravidez. Essas manifestações ocorreram justamente no período em que Estados do Nordeste enfrentavam epidemia por zika vírus.
Mostras de sangue das gestantes e dos bebês com microcefalia – um má-formação rara, que pode levar à deficiência mental, crises de epilepsia, problemas de coordenação, audição e visão – tentam identificar as causas da doença. Até agora, a maior dificuldade dos pesquisadores era encontrar traços de algum agente infeccioso que pudesse ter levado à má-formação.
O zika vírus foi isolado no Brasil no início do ano e provocou epidemia em vários Estados do Nordeste. Os sintomas da doença, que ficou conhecida como prima da dengue, são febre baixa, coceira e vermelhidão. Quando chegou no Brasil, o zika foi tratado como um problema menor do que a dengue. Há registros esparsos, no entanto, de que um número pequeno de pacientes adultos desenvolveu semanas depois da infecção uma doença autoimune, a Guilliam Barré. A associação com a doença também está em análise. Por enquanto, autoridades sanitárias foram orientadas a ficar alertas.